8 abril 2010
Falando de livros, nota-se à evidência uma onda de edição no Algarve, apadrinhada sobretudo perlas câmaras, e que vai da monografia em particular à poesia em geral. Esqueçamos por ora as motivações e custos dessa relativa febre editorial, mas não é difícil notar que a generalidade da produção, se de monografia de trata, não vai além da reedição e aumento da lenda por vezes com aparato académico, e se é poesia, muito do que por aí se publica não vai além do verso rimado ou então da metáfora de umbigo. As edições são, por regra de escassa tiragem, de modo que os livros dão para familiares e amigos do autor, ficam uns quantos na biblioteca em descansada memória, e ainda há outros tantos para visitantes dos paços do concelho que os recebem de presente, agradecem com um sorriso mas que na generalidade nem folheiam. O fenómeno não é específico do Algarve, grassa pelo país fora, e algumas embora poucas empresas da capital até se especializaram no negócio, ou na indústria, como se queira. É claro que nesta torrente se confunde o que tem valor e o que seguramente é dispensável, porquanto há obras preciosas que se perdem no meio de outras cujo número as submerge e faz eclipsar. Além disso, a excessiva municipalização da edição e no que esta passou a significar no que toca a apoios acríticos à edição, impede a afirmação ou até mesmo a tentativa da iniciativa privada nesse domínio em que a independência do poder e dos interesses de afirmação política é garante de liberdade e competitividade quanto à criatividade intelectual. E é pena pois o amor à terra não se justifica sem o conhecimento da terra, e quanto a conhecimentos ninguém pode dar o que não tem.
Mas calma! Nem tudo é mau, há bastante de proveitoso e até mesmo de altamente proveitoso. Exemplos? Há mais, mas dois bastam. Um, é o belo livro de António Rosa Mendes - “Olhão fez-se a si próprio”. Outro, é o da lição que João Miguel Simões dá com “O Convento da Graça”, o daquelas ruínas de Loulé. Corri livraria atrás de livraria à procura desses dois títulos que me faltavam na estante e de que tinha referências bastantes para apetecer, mas apenas recentemente por obra de meros acasos os livros vieram-me parar às mãos. Li-os e sem dúvida que estão perfeitamente na linha do conhecimento da terra como condição do amor à terra. São duas obras em que se aprende o Algarve, independentemente dos pretextos locais de Olhão ou de Loulé. Duas obras de grande qualidade, cabendo dizer, neste breve apontamento, Obrigado António Rosa Mendes! E obrigado João Miguel Simões!
Carlos Albino
- Flagrante dúvida: Será que todos os municípios têm a consciência de que devem respeitar a inter-religiosidade, a diversidade religiosa e que não podem afirmar-se, directamente ou indirectamente, como confessionais? Há dúvida nisso.
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