quinta-feira, 20 de agosto de 2009

SMS 324. Até agora, coisas vazias


20 Agosto 2009

As listas para o parlamento são o que são – listas pobres, com uma gente estranha e outra gente que faz da política um emprego – e quanto a programas eleitorais para consumo do círculo também não se espera grande coisa para além das tiradas da regionalização, meta que, por este ou aquele motivo ou pretexto, ficou desacreditada aos olhos dos eleitores. As listas para as câmaras e freguesias também não vão politicamente além do sofrível com rotundas a serem feitas por aí à última hora, com festivais a cheirar a últimos cartuchos mas na expectativa de que o povo agradeça, enfim com crónicas do poder nos jornais que por tão óbvias acabam por se revelar peças humorísticas certamente contra a vontade dos autores, e com as oposições, uma aqui de uma espécie, ali de espécie contrária, a usarem exactamente ou a baixa política de estreita visão localista ou os verbos abstractos do mais aberrante bairrismo no infinitivo: refazer, relançar, reganhar, reconquistar, restituir… Até agora, coisas vazias.

Os cartazes já vão estando nas ruas e praças embora apenas lá para meio de Setembro é que entrará para dentro dos olhos que legislativas e autárquicas vão ser uma única molhada apesar dos sufrágios decorrerem em dias diferentes. Mas apesar de molhada, os eleitores não vão confundir umas com outras. Por um lado, como raramente aconteceu desde a instauração do regime democrático e ultrapassada a era das figuras carismáticas regionais que discursaram muito e pouco fizeram, os grandes partidos não dispõem no Algarve de escóis regionais – o escol de cada partido ou próximo de cada partido pôs-se à margem e isentou-se, deixando praticamente dentro dos partidos apenas elites constituídas por gente funcionária que exerceu cargos altos e baixos por nomeação e que mais não podem oferecer do que a ideologia funcionária que receberam – são elite e vestem bem, sim senhor, mas estão longe de ter a categoria de escol que, se é escol, não depende da camisa ou dos folhos do vestido. E não ter escol é o drama do Algarve que os principais partidos converteram em tragédia e os que os partidos secundários representam sob a forma de farsa. A corrosão da democracia começa a dar sinais por aí como a ferrugem no ferro.

Carlos Albino

    Flagrante conversa de café: Ninguém vai votar apenas para que o número dois de uma lista ou o número quatro de outra seja eleito. A não ser às cegas.

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