Sejamos francos – Pela primeira vez, o Algarve vai ter acesso a um Programa de Verão à altura do que é de esperar para uma região com as suas características, à parte a infeliz e dispensável designação. Pela primeira vez os seus habitantes, não tanto por eles mesmos mas mais pelos residentes temporários e episódicos, vão poder ter acesso a momentos impensáveis. Ninguém poderá ficar indiferente. Na perspectiva de resposta a públicos com exigência, e criação de novos públicos que se soltem dos formatos decadentes dos talk-shows televisivos, felizmente que esta época estival vai proporcionar um reforço e uma inovação inéditos nesta zona do país. Não se pode ser reticente em relação ao conteúdo desta iniciativa.
Pena é, porém, que a iniciativa apareça embrulhada naquilo que surge como uma investida de carácter económico e comercial. Ninguém desconhece que as trocas em cultura produzem rendimento, que a contabilidade dos orçamentos de Estado em toda a parte do mundo civilizado contam com as receitas provenientes dessa área, e ninguém desconhece também, que em Portugal, a Cultura já é e pode vir a ser um factor económico. Não parece, porém, que deva ser alterado, a nível de conceito, o que a cultura é, por excelência – produção, saber, conhecimento e divertimento, de gente, para gente.
É por isso que choca a linguagem de “produtividade” a que anda associada este “investimento”, e as perguntas que se fazem são mais do que muitas. Entre elas, a mais importante é esta – Sob o olhar desta mega-contabilidade, os programas regionais de continuidade vão ou não vão ser acautelados? (A pergunta tem sujeito e destinatário). Ou pelo contrário, na base da grandiosa contabilidade cultural, o Algarve vai ser encarado como um salão de espectáculos que fecha e a abre porta à bilheteira, apenas à medida do show internacional?
É claro que com dinheiro, e à medida do dinheiro, é possível despejar cultura no Algarve. Mas é triste que isso aconteça perante as evidências e os muitos sintomas de desinvestimento na cultura do Algarve.
Carlos Albino
Flagrante mergulho: Mas ainda haverá património arqueológico subaquático no Algarve, depois de tanta pilhagem impune e pela calada, a dar livro de ficção? Porque não um livro branco sobre a matéria? Há medo?
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