Prezada Senhora, oxalá que também sensata,
Naturalmente que de há muito se requeria uma autoridade nacional de segurança alimentar e de fiscalização económica, como V. Ex.ª tem vindo a demonstrar que pretende ser. E mais, de há muito se exigia que alguém como V. Ex.ª, minha senhora, prescindisse da saia larga que muitas autoridades usam e de que não abdicam, e siga a rigor os princípios da independência, precaução, credibilidade, transparência e confidencialidade, tal como consta no seu cartão de visitas.
Pois, que V. Ex.ª, minha senhora, surja como provedora das comuns necessidades vitais do estômago e alma, zeladora da higiene e saúde pública, e avessa aos dois pesos e duas medidas ou a diferentes critérios conforme o lugar ou conforme o có-có-ri-qui có-ró-có-có que o galo da circunstância cante. Ou seja, que V.Ex.ª, minha senhora, como autoridade que é, não proceda conforme o poleiro que escrutina.
Acreditamos piamente que as vossas 479 operações e 958 brigadas que fiscalizaram 6246 operadores de Janeiro e Março, tenham contribuído para sanar este ambiente de galinheiro a que os nossos estômagos e as nossas almas já estavam habituados como condenação, embora duvidemos que as 14 suspensões de actividade, 312 processos-crime, 1447 processos de contra ordenação e 32 detenções em todo o País, por entre 2232 infracções detectadas, sejam suficientes para nos dar tranquilidade e confortável segurança.
Até agora, pequenos e modestos estabelecimentos, mas também médios, têm acatado pacificamente as vossas instruções e até algumas advertências ou avisos mais ou menos bem fundados, até porque V. Ex.ª, minha senhora, é ainda uma mulher jovem e não teve ainda tempo para adquirir os vícios e manhas da burocracia portuguesa que está por entre as mais velhas profissões do mundo.
Só que nisso, V. Ex.ª, minha senhora entra já no período de teste. Irá V. Ex.ª aplicar em todos os festarins de chão e frituras de cheiro nauseabundo, comes e bebes de insondável proveniência mas no adro, mostras e festivais gastronómicos que a pretexto de se enquadrarem em «festejos populares» são contra o povo quando ou sempre que não passam de imundície na churrasqueira, irá V. Ex.ª aplicar aí o rigor que exige e bem às unhas dos pequenos e modestos estabelecimentos?
Ou será que irá adiar para o ano, prejudicando seriamente a vossa invocada independência, precaução, credibilidade, transparência e já agora a vossa confidencialidade?
Vamos ver, e havemos de voltar ao assunto.
Beijo as suas mãos,
Atenciosamente
(Assinatura ilegível)
Flagrante surpresa: Sentia-me bem, nem sabia porquê. Mas foi preciso que Loulé atribuísse a título póstumo a Medalha de Ouro do Município ao arquitecto Manuel Laginha (1919.1985) para ficar a saber que a casa onde vivo em Lisboa, na frente Norte da Avenida Estados Unidos da América, afinal foi arquitectada por ele... E não é que surpreendentemente me sinto melhor?
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