Por interposta mão, chegou-me por acaso a revista al-‘ulyà do Arquivo Municipal de Loulé (a explêndida capa aqui ao lado). No limiar entre o propósito de rigor científico e o de divulgação, a revista é um exemplo de como a cultura não cai do céu mas faz-se quando quem a ajuda fazer, cumpre sem pretensões aquele velho preceito fundador do humanismo e que consiste no «conhece-te a ti mesmo». A revista mergulha nas raízes e na memória de Loulé, obriga a que os de hoje arquivem um abraço aos do passado, fora das lendas e contarelos endrominados como verdades – um abraço, nem que seja a pretexto de um caco que, assim sendo, vale ouro.
Por regra, a noção de arquivo prende-se à de guardar para esquecer, por vezes até para fazer esquecer quando se arquiva sem arrumo. Ora, mas que surpresa, chegar às mãos uma revista de arquivo que faz precisamente o contrário – lembrar! É o caso do texto consolidado de Hélder Raimundo que, ousando mexer no passado recente, situa Casimiro de Brito no seu lugar, lugar que é Loulé, onde ainda menino, ao colo de António Aleixo sentiu pela primeira vez a função da poesia, e que é, acima de tudo, a de que os homens se conheçam a si mesmos. Ainda bem que Casimiro de Brito, em Loulé, já está a sair do arquivo.
Carlos Albino
Flagrante consenso: O que António Pina recolhe para a RTA. Quando há consenso, muita prosápia acaba.
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