As minas de sal-gema de Loulé, nos seus cerca de 40 quilómetros de galerias em quatro pisos até perto dos 300 metros de profundidade, tem todas as condições para albergar um centro subterrâneo de reabilitação e terapêutica para vias respiratórias, alergias, doenças da pele e perturbações do metabolismo. Por outras palavras, tem condições para ser um pólo de turismo de saúde. Sabendo disto, Mendes Bota não terá perdido um segundo para fazer o que falta: munir-se da anuência interessada da entidade proprietária das minas, sensibilizar o município local e colher por via da cooperação a experiência de quem a tem – e, se há no mundo experiência nesse turismo de saúde, ela está em Wieliczka, cidade do sul da Polónia, na área metropolitana de Cracóvia e quase na fronteira com a Áustria, sob a qual existe uma das mais antigas minas de sal-gema, descobertas em 1044 e exploradas com regularidade desde o século XIII. (Fotos da mina ao lado)
E é assim que, à hora em que estas linhas chegam às mãos do leitor, a senadora polaca Urszula Gacek, a convite de Mendes Bota, já deambulou pelas profundezas das galerias de Loulé, acompanhada pela encarregada de negócios da Polónia, Dorota Ostrowska-Cobas, após uma reunião de interessados no projecto, este provavelmente sustentado por um acordo de geminação entre Loulé e Wieliczka, terras que, ficando onde ficam, não são concorrentes mas podem ser cooperantes por aquilo que, entre povos, a política tem de mais puro e sem dúvida de mais belo. A concretizar-se a geminação, esta nada terá, pois, a ver com ideias peregrinas que por regra andam coladas como carraças às geminações. Será uma geminação com sentido, que a ideia vá para a frente. Vítor Aleixo, o anterior presidente da câmara louletana, deve estar muito arrependido porque até teve a ideia entre as mãos e deixou-a escapulir.
Embora a utilização do sal-gema algarvio extraído a céu aberto reporte provavelmente a tempos remotos da história e, mau grado os que obsessivamente apenas lêem árabe em todo o lado, justifique o dedo fenício em topónimos, é claro que as minas de Loulé não têm o acervo cultural e patrimonial multissecular das minas de Wieliczka, por isso mesmo, desde 1978, na lista do património da humanidade, sendo por isso também que Wieliczka só no primeiro trimestre deste ano recebeu 140.224 turistas… Não será isto que Loulé pode pretender, mas com números obviamente mais modestos, o turismo de saúde é uma boa causa, um bom motivo e uma finalidade de excelência. É por estas e por outras que se vão perdoando os pecados a Mendes Bota.
Carlos Albino
Flagrante ignorância: A de quem se pronuncia contra ou a favor da autonomia administrativa, mas sobretudo contra, confundindo os conceitos de desconcentração, descentralização e regionalização, e, ignorância mais grave, contrapondo autonomia administrativa à organização municipal. É o problema das licenciaturas apressadas…
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