10 Agosto
Bem nos recordamos de como antes de cada ciclo de eleições locais e quem quer ganhar anuncia, exige e promete sob honra auditorias às contas municipais. O anúncio é feito de forma a sugerir graves prevaricações, a exigência é descrita com argumentação vaga cuja explicitação é remetida para momento oportuno e a promessa é, com alguma sabedoria, transformada em prato forte da captação dos votos daqueles que são sensíveis à moralidade nas coisas públicas. A auditoria é assim tratada como que poção mágica para sufrágios renhidos, a tal ponto que quem está no poder, iluminado pelo velho princípio do quem não deve não teme, já se vê na obrigação de anunciar auditorias à sua própria gestão, antes que o adversário que lhe ambiciona a cadeira tome a iniciativa em primeiro lugar.
Se por acaso uma oposição passa ao poder, a primeira conferência de imprensa festiva e o primeiro comunicado são dedicados à reclamadíssima auditoria, mas, depois, passam os meses, largos meses, meses mais do que suficientes para pôr o preto no branco e o assunto é deixado cair – e então como o Verão Algarvio facilita os esquecimentos! E se também por acaso quem estava no poder não o perdeu, a tal auto-auditoria igualmente vai caindo no conveniente esquecimento, pois quem perdeu, por tradição que não deixa de ser esquisita, bate com a porta, vai à vida e declara-se desiludido com a política. Mas o que é mais espantoso é que na hipótese de ter havido auditoria mesmo e a sério, a investigação de contas, decisões e procedimentos não tenha afinal revelado qualquer resultado escandaloso, ilícito de monta ou crime manifesto como as suspeitas sugeridas ou as invocadas honras pessoais iniciais – conforme os casos - levavam a presumir.
Ora, assim, a política não é jogo limpo.
Carlos Albino
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