11 Maio 2006
«Diga lá! O ké ke kéri?» - foram estas as primeiras palavras que a funcionária, bem aperaltada e com ares de mestrado em prepotência municipal, me dirigiu, além disso espetando o dedo como bico de pita na minha inicial tentativa de dizer boa tarde, pelo que apenas disse boa e engoli a tarde. E estava eu mastigando em silêncio aquele venenoso formulário de atendimento público, quando a funcionária volta à carga, fazendo subir a voz como o clarinete de Paderne a disfarçar a fífia - «Vá! O ké ke kéri? Diga lá!». Claro que perante esta ordem municipal para eu dizer lá, disse lá imitando tanto quanto possível o contra-baixo da banda de Portimão e retirei-me sem tratar do caso. É que não tenho mesmo nenhuma paciência para aturar estes plebiscitos de duas pernas que se sentam nas repartições públicas como direitos adquiridos e que degolam qualquer educação cívica e qualquer instrução pública. Disseram-me depois que aquele plebiscito está ali apenas por ser afilhada de um padrinho, e se aqui trato deste caso de mordomia poluída sem nome e sem local, é porque também me disseram que o caso é mais geral no Algarve do que eu antes supunha e que não ocorre apenas com bicos de pita, enfim sempre são pitas, mas que se repetem com árvores de maior porte que a desconcentração e descentralização por aqui planta...
Carlos Albino
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