sábado, 28 de janeiro de 2006

SMS 142. A Sala do Mundo às Avessas

28 Janeiro 2006

Possivelmente todos os queridos leitores sabem que em Mangualde, lá para a Beira Alta, precisamente no Palácio dos Condes da Anadia – sumptuoso solar que vale a pena visitar – a sala de baile mudou justificadamente de nome e toda a gente lhe chama a «Sala do Mundo às Avessas». Os azulejos do século XVIII que forram essa sala, baseados em gravuras de Oudry, representam mesmo este mundo como se estivesse virado ao contrário: os barcos e peixes andam nas nuvens, as aves na profundeza dos mares, são os burros que puxam os homens e não os homens que puxam os burros, tudo, muito do que possa imaginar está tudo ao contrário, a começar pelos caçadores que são caçados pelos bichinhos que normalmente caçam... E como todos os meus queridos leitores estão à espera que eu fale das presidenciais e mais precisamente dos resultados eleitorais no Algarve, naturalmente que não poderia guardar para mim essa imagem da Sala do Mundo às Avessas que é uma metáfora ímpar do que se passou, do que se passa e possivelmente do que se irá passar. Sendo mais concreto e indo directamente ao assunto, não posso deixar de observar que o mundo estará às avessas quando vejo os principais responsáveis pela falta de democratização dos partidos – designadamente alguns velhos suseranos do PS que discursaram muito na vida e não fizeram nada pelo Algarve – quando vejo esses, agora, a encabeçar movimentos de cidadania contra o clientelismo, as mordomias... Portanto são os burros que conduzem ao avesso os homens, tal como na sala do Palácio de Mangualde aonde já não é preciso ir – basta observar o comportamento de alegados líderes do Algarve, os quais afinal nunca foram líderes mas apenas o avesso e, para mais com o desplante de conduzirem homens.

Carlos Albino

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