24 Março 2005
O diálogo entre o Algarve e a Andaluzia tem sido insuficiente e a cooperação entre as duas unidades históricas do sul da Península, na prática, é insignificante – há umas «coisas» por ali e por aqui mas decorrendo do voluntarismo e das meras boas vontades. Não há um plano, uma estratégia concertada entre os dois lados, uma ideia grande. O que é estranho, porquanto entre o Algarve e a Andaluzia não há conflitos fronteiriços, não há preconceitos de monta nem sequer suspeições de que Sevilha queira tomar Faro, ou que Huelva queira suplantar Vila Real de Santo António. Os andaluzes, nisso – estou em crer – estão a quilómetros e quilómetros dos estremenhos que começam logo por mentir nas fronteiras. Entre o Algarve e a Andaluzia esse problema não existe.
Ora, uma cooperação aprofundada, um diálogo consistente e uma afirmação consolidada deste verdadeiro arco mediterrânico não é coisa que caia do céu. Até há pouco tempo, o Algarve poderia queixar-se de não ter um instrumento institucional, mínimo que fosse, para encetar caminho e falar para os andaluzes e com os andaluzes. Agora tem. Tem esse mínimo que se chama Junta Metropolitana a que se exige mais do que olhar para o umbigo, ficando à espera do trem e do sábado que vem. Uma liderança regional não se constrói por decreto e até será desejável que não dependa de decreto, mas sim da sua capacidade de rasgar horizontes, de abrir o Algarve para lá das duas fronteiras que o empalham – a fronteira do Alentejo que está a transformar a Província numa venenosa Costa da Caparica e a fronteira da Andaluzia que, vencida – como poderia e deveria ser vencida – poderia dar à Província um bilhete de identidade menos condicionado pelas mentalidades provincianas que imperam tortas.
Devemos então dizer a Macário Correia que se desejar um hino para o Algarve, aí está o melhor hino – entoar um diálogo bem cantado com Manuel Chaves, o Presidente da Junta da Andaluzia. E se desejar uma bandeira, aí está a mais bondosa bandeira – uma cooperação que mobilize e movimente o melhor que entre os dois lados pode cooperar. O Algarve não tem governo como os andaluzes, não tem parlamento como o que se reúne em Sevilha presidido por Mar Moreno, mas ao menos poderia e deveria para já, convidar Manuel Chaves e Mar Moreno para, aí em algum auditório sem pretensões a capital em falsete da cultura, nos explicar o que Andaluzia pensa de si própria e do Algarve… Não vou ensinar o padre nosso ao santo cura.
Carlos Albino
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