17 Março 2005
E aí está alguma polémica com as chamadas «Secretarias de Estado deslocalizadas», designadamente com a do Convento de São Francisco em Faro. Chamou-se a essa «deslocalização» quase tudo: ora era regionalização ou anunciado passo para isso para logo se corrigir para desconcentração, e depois, vendo-se como a emenda aumentava a asneira, passou a falar-se de descentralização… Mas independentemente destes jogos de palavras, o Estado continuou centralista – como sempre foi e por cero continuará a ser – cometendo aos secretários de Estado «deslocalizados» a função de fazer promessas, de amolecer justas pretensões e de satisfazer a vaidade de meia dúzia convencida de que ao apertar a mão do secretário de Estado estaria a apertar a mão do Estado…
Um secretário de Estado do Turismo em Faro – já aqui foi dito – era mau para Faro e mau para o Algarve. Mau porque qualquer decisão normal, vulgar e lógica que tomasse, seria entendida pelo País fora como suspeitosa, como estando a favorecer o perímetro do gabinete e os interesses gravitacionais dessa área política. Além disso, o Ministro do Turismo do Resto do País sentia-se assim isentado para as questões do Algarve e para as responsabilidades com o Algarve – «Falem com o secretário de Estado!», era a resposta sem expediente. Viu-se o que foi feito para a Região Centro, para o Douro, o que foi prometido para o Alentejo… e o que foi feito para o Algarve, nomeadamente para Faro onde esse pormenor do projecto da capital da cultura ficou com um orçamento praticamente igual ao da restauração do Teatro de Ópera Micaelense e pouco superior ao da restauração do teatro de Estremoz! O turismo – principal interessado na façanha – fez ouvidos de mercador e a programação, pelo que foi dito, equivale à programação normal da Câmara de Cascais e nem uma acção apresenta com o nível da que na Póvoa do Varzim (um dos principais estuários dos casinos) se consegue. Basta citar apenas este pormenor, não vemos mais longe.
Adivinhava-se que um secretário de Estado «deslocalizado» em Faro, como aconteceu com o outro «deslocalizado» em Coimbra e com os restantes cada um na sua capelinha local, das duas uma: ou se convertia num vereador do presidente da Câmara local, ou num capataz com direito à primeira fila nas missas, ao centro da mesa nos almoços e ao fim das sessões com discursos. Esse secretário de Estado, bem vistas as coisas, não estava «deslocalizado» – palavra horrível! – mas sim deslocado. Deslocado, e a atirar areia para os olhos porque toda a gente sabe onde a sede do capital financeiro das empresas turísticas que operam no Algarve a começar pelo jogo, salvo honrosas excepções, está – fora do Algarve.
A decisão de acabar com a palhaçada que nunca deveria ter começado, foi boa. O Algarve ficará mais favorecido com uma Direcção «Regional» de Turismo (as aspas justificam-se!) que desconcentre a sério, melhor ficaria com uma Direcção Regional sem aspas, que corporizasse verdadeira descentralização e preparasse caminho para uma autêntica regionalização. Mas esta, o Estado não quer, e sendo assim que não atire areia para os olhos.
Carlos Albino
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