19 Agosto 2004
Os partidos falharam. E como a esperança é a última coisa a morrer, valha-nos a sociedade civil. Os partidos falharam na pedagogia pública, colocaram-se a milhas daquelas tarefas de instrução cívica que a democracia lhes impõe e converteram-se em maquinetas eleitorais que ciclicamente prometem ao eleitorado o que não vão cumprir nem poderão cumprir porque as promessas, já de si, têm sido vagas. É verdade que felizmente ainda não andam por aí os galopins* mas há situações que estão próximas dos compradores de votos. Em vez de proporcionarem líderes promotores do debate sereno e inteligente, abrem caminho a títeres que fazem carreira com base no ataque gratuito, na tramóia bem montada e no endeusamento do ego; em vez de abrirem as largas avenidas da crítica construtiva e de estimularem o confronto público das ideias, enveredam pelo beco das mordomias organizadas, quase sempre assassinando o interesse geral e condenando o bem comum à prisão perpétua; e em vez de submeterem as ideias ao escrutínio público, não senhor, fogem desse escrutínio preferindo consolidar a chamada «carreira política» dotada já de «profissionais da matéria». Tem sido este, muito em particular, o drama do PSD e do PS do Algarve, manifestamente atados aos muitos egos, às mordomias e ao fracasso de ideias reciprocamente tolerado. Espero pela hora em que estes partidos façam uma verdadeira autocrítica.
E que sociedade civil? Naturalmente que me refiro à única tábua de salvação – a sociedade dos cidadãos, a organização cívica e o exercício da generosidade que não visa o poder nem dele se faz por natureza condicionar. Não me refiro, portanto, à sociedade civil do subsídio, à associação criada para legitimar neste ou naquele domínio o uso de dinheiros públicos sem um projecto aceitável e sem um plano de comprovado alcance mas apenas com um elenco de objectivos apresentados como que a corresponderem a duvidosas necessidades. Admito que os políticos que temos gostem disto porque lhes adorna o exercício, mas não é a essa sociedade civil que me refiro nem será essa a sociedade civil de que o Algarve precisa de ver afirmada como o pão para a boca e que não só faça a todo o vapor o trabalho que partidos não fizeram, aguardando pacientemente, pois, que o façam.
Exemplos. Sim, poderia apresentar muitos exemplos e bons exemplos, mas por ora cabe um. Creio que toda a gente já ouviu pelo menos falar da Casa do Algarve. É claro que acredito que a Casa do Algarve seja ou possa vir a ser um factor civil importante para a região algarvia. É um assunto para pensar.
Carlos Albino
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