7 Agosto 2003
Custa-me aceitar que, depois desse enorme estendal de buscas na RTA, com apreensões de discos rígidos e com uma caterva de suspeitas atiradas para o ar, mas sobretudo depois da seta atirada certeiramente ao peito de Paulo Neves, que não haja, decorrido este tempo, nada de concreto, que não haja um indício, um sinal sequer de justificação da gravidade que levou à intervenção a qual, tal como foi dito pelos responsáveis, nem podia ser antes, nem depois. Mas porque não antes ou porque não depois? Naturalmente que os algarvios sérios e honestos que felizmente são muitos, muitos mesmo embora calados, ficaram em estado de choque com o sucedido, tanto mais que a operação e a forma como foi suportada pelo zelo matreiro próprio da divulgação sediciosa que não se livra da fama de ter sido concertada, determinou incontornavelmente os resultados da eleição da liderança da RTA. Naturalmente que os algarviotes, que apesar de poucos são bastantes para influenciar perversamente a coisa pública (por isso é que são algarviotes) devem estar a rir-se a bandeiras despregadas. E felicissimos, então, devem andar os algarviões, um reduzido número, um grupo quase insignificante mas que está para o Algarve como a pneumonia atípica está para Singapura (por isso é que são algarviões). Mas agora um pouco à distância dos acontecimentos, parece que, mais uma vez, o segredo de justiça (tão machão mas impotente) se casou com a justiça do segredo (aparentemente virgem mas mais sabida que a cobra reputada de Eva), sabendo-se que, em Democracia e num Estado de Direito, desse casamento só pode resultar geração irremediavelmente estropiada ou meia dúzia de siameses unidos monstrusosamente pela cabeça como um molho de rabanetes. Faltaram dois votos a Paulo Neves. Pelo que me dão como certo, a história da RTA já terá resultado num arguido que não é Paulo Neves e, ou redondamente me engano, ou andará muito perto da verdade a sugestão de que os dois votos que lhe falharam, foram precisamente o do segredo de justiça e o da justiça do segredo. Se assim for, que Paulo Neves conte comigo como testemunha.
Carlos Albino
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