14 Agosto 2003
O regime democrático tem ou deve ter um credo inicial: a Transparência. Sem transparência ou com transparências apenas para inglês ver, a situação de liberdade alimenta o diz-se, diz-se, o boato, a inverdade e, por resvalo, tudo o que bate à porta da calúnia e da difamação. Vem isto a propósito do que cidadãos eleitos ou nomeados para relevante cargos públicos deviam impor a si próprios: a regra de divulgarem, em boa hora, os seus currículos profissionais e académicos, de forma exaustiva e sem hiatos. Currículos na íntegra porque quem não deve não teme. As instituições públicas regionais, as autarquias, os serviços estatais desconcentrados ou regionalizados têm lugares na Internet e é aí que deveriam constar os currículos profissionais e académicos de eleitos e nomeados. E nada melhor que alguém com responsabilidades começar por dar o exemplo, como é o caso do Presidente da RTA, instituição emblemática e em certo sentido lugar-chave de poder no Algarve. Gostaria imenso que o senhor Helder Martins divulgasse o seu currículo exaustivo, precisamente para dar exemplo. Que tornasse público o que estudou, a formação complementar que obteve, as empresas que serviu de quando até quando, se apenas em Portugal ou também no estrangeiro, enfim, a sua experiência profissional completa. Tudo colocado à vista desarmada. Em democracia, um cidadão que aceita ser eleito ou nomeado para um cargo de relevante interesse público, não deve evidentemente temer que o seu passado seja escrutinado, fornecendo ele próprio os dados sem omissões. Esta é até a melhor defesa para o eleito ou para o nomeado, antecipando-se eventualmente a alguém que malevolamente faça o currículo por ele mas mal. A Transparência (assim mesmo com letra grande) deve imperar. Aprecio imenso as «mensagens» que os presidentes de câmaras dirigem aos seus munícipes, aprecio imenso que alguns até digam que são casados e têm um número tal de filhos, aprecio muito mais que digam que são militantes deste ou daquele partido desde o ano tal com desempenho deste ou daquele cargo dentro do dito partido ou como corolário da filiação e registo com enorme satisfação que digam qual é a sua profissão. No caso das Câmaras Municipais aprecio imenso esses rasgos de sinceridade mas isso não basta, e muito menos basta quando se trata de funções que implicam o Algarve e os algarvios no seu todo. Os nossos vizinhos Espanhóis, para não falar do que se passa em toda a Europa organizada, já aprenderam há muito essa regra da Transparência, usando a Internet não tanto para plantar flores mas para ajudar a árvore da democracia a crescer e a enraizar-se. Tem portanto a palavra o senhor Helder Martins, o eleito mais recente de uma instituição do maios peso.
Carlos Albino
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