Neste Natal, poucos ou ninguém está à espera de grandes presentes e de alegres surpresas. E os apelos à solidariedade, vulgares na quadra mas que ainda há pouco tempo pareciam coisas estranhas, já não são tanto apelos à solidariedade entre ricos e pobres mas solidariedade entre os menos pobres e os abandonados pelas sucessivas gestões públicas. À minoria dos ricos cada vez mais ricos, resta-lhes a caridade sem a qual não adquirem o estatuto de bom-tom e de efémero perdão divino. As instituições que são o elemento comum a todas as explicações sobre as as razões porque algumas nações prosperam e outras ficaram para trás na marcha da história humana, refletem nos seus orçamentos e planos para
Mas não podemos nem devemos deixar-nos soterrar nos escombros da crise.
Vivemos em sociedade, felizmente livre e que em momentos agendados faz
livremente escolhas e corrige escolhas anteriores, e é apenas em sociedade que
podemos encontrar caminhos e soluções. Ninguém fechado na sua casinha, seja
esta casinha uma freguesia, um concelho ou mesmo a região, pode julgar que o
temporal passa e que nada tem a fazer fora da sua casinha, pensando que chegou
a hora de fazer adeus aos vizinhos e que sejam os vizinhos a resolver a crise.
Ora, chegou precisamente a hora de não dizer adeus. Chegou o momento de, no
maior número possível, os cidadãos clamarem em uníssono que querem o fim da
crise e sanar erros e causas da desesperança, assumindo responsabilidades,
compromissos e escolhas. E, em democracia, não é preciso esperar pela hora das
eleições, sejam estas meramente indicativas como as próximas europeias ou
decisivas como as que lhes seguirão. A palavra esperança deve fazer-se ouvir,
para já, nas assembleias municipais e de freguesia que nos prolongados anos de
distração funcionaram, na generalidade, com ambientes de enterro e para
cumprimento de formalidades em tono de figuras que tanto deram para caciques
jogadores, como para almas generosas e probas.
E já agora, o melhor presente que o Algarve poderia receber neste
Natal, é ter uma voz no sapatinho. O Algarve precisa de ter uma voz, e isso
apenas a sociedade a pode oferecer. Com
urgência, o Algarve não precisa de brinquedos tem muitos para brincar, não
precisa de roupas novas (os guarda-fatos, sobretudo políticos, estão cheios de
roupa), não precisa de jogos de computador (está cheio de jogos e de jogadas) –
precisa de ter uma voz. Coisa tão pouca e que não pesa no orçamento.
Ofereçam-lhe isso porque a voz do Algarve só é possível saindo das gargantas de
todos, a começar pela palavra esperança. Chegou a hora de não dizer adeus.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante comida: O melhor que o reconhecimento da Ementa Mediterrânica pela UNESCO pode provocar, é não termos vergonha da comida dos nossos pais e avós, vermos nela um sinal de riqueza e que seja posta, com cinco estrelas, na mesa de cada um.
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