quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

SMS 542. A Casa do Algarve

5 dezembro 2013

Os leitores que, desde 2013, acompanham estes apontamentos, sabem que de vez em quando não evito falar da Casa do Algarve em Lisboa, da importância que deveria ter ou que nunca devia ter perdido porque já a teve. Durante décadas, a Casa foi tratada com a embaixada da região na capital, por décadas e décadas por ela fizeram passagem obrigatória todos os algarvios que se prezassem independentemente de credos políticos e estatutos sociais, foi um elo de ligação, quando não de pressão por vezes incontornável entre a região e os poderes, e foi uma instância de consenso e de influência. Paradoxalmente, quando alguns acreditavam que a democracia iria potenciar a instituição, dar-lhe um novo fôlego e traduzi-la para a modernidade, eis que a Casa iniciou um declínio sem fim, entrou em crise e por pouco que não caiu no anonimato. Vários fatores contribuíram para isto, mas um desses fatores impressiona é precisamente o fator político.

 A livre eleição de deputados, por distorção de algumas visões sobre o que seja ou deva ser a cidadania e o seu exercício, levou a que se pensasse que a representação do Algarve e dos Algarvios ficasse completa com uns quantos deputados do círculo dispersos por este e aquele partido. Ora aconteceu o contrário. Esses deputados, que deveriam ter sido os primeiros a marcarem presença na Casa do Algarve e não a serem os seus sistemáticos ausentes, é verdade que fizeram muitas perguntas a governantes e dirigiram muitos requerimentos aos governos, mas, na generalidade dos casos e pelo histórico dos exercícios políticos, não influenciaram nem deixaram influenciar. Em vez de se congregarem no sítio certo sempre que algumas vezes tocou a reunir pelo Algarve, ausentaram-se uns, outros voltaram mesmo as costas, outros ainda fizeram-se distraídos como se a Casa do Algarve fosse instituição que passou à história.

Idêntico procedimento, sejamos francos, tem sido foi o que, nas câmaras e nas juntas, grande parte dos autarcas tem manifestado, sem dúvida influenciados pelo distanciamento de deputados e estados-maiores regionais dos partidos, estes, por vezes, a cair nas mãos de desenraizados, ou, pior, nas mãos de gente que não quer criar raízes e que só não desdenham do Algarve em voz alta porque o Algarve é que os sustenta na profissão política. Estou convicto, no entanto, que o panorama vai mudar, a começar pelos autarcas. E virá o momento em que nenhum político terá êxito eleitoral se não tiver no seu cartão de cidadão o registo do seu enraizamento ao Algarve.

O Algarve dos Algarvios, mais do que nunca, precisa da sua Casa em Lisboa enquanto Lisboa for a capital e o centro do poder, precisa de que a Casa volte a acolher sob o seu tecto os Algarvios que se prezam, independentemente de credos políticos e estatutos sociais, porque todos juntos muito podem fazer pelo Algarve desde que pisem o chão da embaixada. Os Açorianos entenderam isso há que tempo!

Carlos Albino
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Flagrante slogan: Diz a propaganda que o Algarve é ”o segredo mais famoso da Europa”. Mais famoso e mais mal aproveitado.

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