quinta-feira, 17 de maio de 2012

SMS 462. Tenhamos esperança. Mas como?

17 maio 2012

Razões e motivos para vermos tudo negro, não faltam por todo o lado e em todos os cantos.   As poucas coisas que ainda nos salvam ainda são alguns jardins verdes, as ruas relativamente varridas além de que ainda não se formaram duas enormes filas de pobres esfarrapados e descalços às portas das igrejas a entoarem de mão estendida “dê um tostanito, que Deus lhe pague”, que era o que se ouvia nos anos 50 e 60 e que das poucas coisas que a ditadura não conseguiu proibir que os pobres dissessem em voz alta. Mas não estaremos longe desse cenário se nada for feito para as pessoas e, à semelhança da Índia mais atrasada, se transformar a nossa sociedade em duas castas – a casta dos gestores e a casta dos geridos, como as revistas ditas sociais já vão dando conta e pelos vistos com o apoio dos desgraçados ou perto disso. Todos sentem que cidades e vilas estão em decadência, que a partir das 20 horas parece haver um apagão em todas as ruas, que todas as horas são horas de ladrões e bandidos, e que o medo ocupa o quarto de hóspedes em todas as casas porque ninguém se sente seguro como o órgão oficial do crime diária e acriticamente vai dando conta como se fosse um relato da bola, e pelos vistos para gáudio dos criminosos que assim podem avaliar a gratuita repercussão dos seus feitos.

É claro que é urgente, é preciso uma palavra de esperança. Essa palavra só pode partir das instituições e é até obrigatório que parta delas e, à cabeça, das instituições políticas. E no Algarve, como região cultural (não é mais que isso e cada vez menos é isso), aí é que a porca torce o rabo. Localmente há instituições, boas ou más, eleitas ou não, mas há (câmaras, misericórdias, postos da GNR, grupos de teatro amador, etc...) mas a nível de Algarve que instituições há que possam dar uma palavra de esperança e se lhes exija isso?  Há algumas, com certeza mas fora do terreno político (a universidade, por exemplo) e será aconselhável que não as liquidem como aconteceu com o Governo Civil extinto e, para o que era, bem extinto, mas sem nada que lhe viesse a ocupar a função de cabeça ou guia da região, independentemente do que a lei lhe atribuía. O erro do governo não foi em extinguir mas em não ter recolocado em algum lado o papel da única instituição a quem regionalmente se exigiria uma palavra de esperança nas horas que passam. Além do governo, quando desce ao Algarve, não ser capaz de uma palavra de esperança sólida e não dessa pomada populista, cortou o que ainda assim fingia ser a boca da região. Mais grave, cortou essa veleidade da região ter boca, uma simples boca que gargantas há muitas mas são absolutamente dispensáveis.

Carlos Albino
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Flagrante harakiri: Com a informação algarvia generalizadamente em crise, a concorrência desleal e os ataques sórdidos, traduzindo para japonês, significam literalmente "cortar a própria barriga" mas, no caso, sem honra.

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