Razões e motivos para vermos tudo negro, não faltam por todo o lado
e em todos os cantos. As poucas coisas
que ainda nos salvam ainda são alguns jardins verdes, as ruas relativamente
varridas além de que ainda não se formaram duas enormes filas de pobres
esfarrapados e descalços às portas das igrejas a entoarem de mão estendida “dê
um tostanito, que Deus lhe pague”, que era o que se ouvia nos anos 50 e 60 e
que das poucas coisas que a ditadura não conseguiu proibir que os pobres
dissessem em voz alta. Mas não estaremos longe desse cenário se nada for feito
para as pessoas e, à semelhança da Índia mais atrasada, se transformar a nossa
sociedade em duas castas – a casta dos gestores e a casta dos geridos, como as
revistas ditas sociais já vão dando conta e pelos vistos com o apoio dos
desgraçados ou perto disso. Todos sentem que cidades e vilas estão em
decadência, que a partir das 20 horas parece haver um apagão em todas as ruas,
que todas as horas são horas de ladrões e bandidos, e que o medo ocupa o quarto
de hóspedes em todas as casas porque ninguém se sente seguro como o órgão
oficial do crime diária e acriticamente vai dando conta como se fosse um relato
da bola, e pelos vistos para gáudio dos criminosos que assim podem avaliar a gratuita
repercussão dos seus feitos.
É claro que é urgente, é preciso uma palavra de esperança. Essa
palavra só pode partir das instituições e é até obrigatório que parta delas e,
à cabeça, das instituições políticas. E no Algarve, como região cultural (não é
mais que isso e cada vez menos é isso), aí é que a porca torce o rabo.
Localmente há instituições, boas ou más, eleitas ou não, mas há (câmaras,
misericórdias, postos da GNR, grupos de teatro amador, etc...) mas a nível de
Algarve que instituições há que possam dar uma palavra de esperança e se lhes
exija isso? Há algumas, com certeza mas
fora do terreno político (a universidade, por exemplo) e será aconselhável que
não as liquidem como aconteceu com o Governo Civil extinto e, para o que era,
bem extinto, mas sem nada que lhe viesse a ocupar a função de cabeça ou guia da
região, independentemente do que a lei lhe atribuía. O erro do governo não foi
em extinguir mas em não ter recolocado em algum lado o papel da única
instituição a quem regionalmente se exigiria uma palavra de esperança nas horas
que passam. Além do governo, quando desce ao Algarve, não ser capaz de uma
palavra de esperança sólida e não dessa pomada populista, cortou o que ainda
assim fingia ser a boca da região. Mais grave, cortou essa veleidade da região
ter boca, uma simples boca que gargantas há muitas mas são absolutamente
dispensáveis.
Carlos Albino
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Flagrante harakiri: Com a informação algarvia generalizadamente em crise, a concorrência desleal e os ataques sórdidos, traduzindo para japonês, significam literalmente "cortar a própria barriga" mas, no caso, sem honra.
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