Pelo que acaba de acontecer em França, pelo que quase pela certa se
aproxima na Alemanha, pelas voltas que a Itália e a Espanha deram mais as que
se prevêem (não fica por ali), vendo com serenidade as reviravoltas na Grécia,
e avaliando também estes últimos anos dos nossos concidadãos portugueses que
são como de costume (o dito pelo não dito, a manha, a grande sinceridade no
circunstancial e silêncio fúnebre quanto ao essencial – o que é típico dos
aldrabões sorridentes), vem a propósito o que Thomas Jefferson, o terceiro
presidente dos Estados Unidos, disse: “Um homem honesto não sente prazer no
exercício do poder sobre os seus iguais”. Seja ele Presidente da República,
Primeiro-Ministro ou chefe de autarquia, os mandatos são missões a que alguns cidadãos se submetem
muitas vezes a contragosto e em prejuízo das suas atividades privadas. Não são
eleitos para serem reis temporários e quando deixam o comando da República, do
governo ou da terrinha, voltam a ser cidadãos comuns, ou seja, são promovidos a
povo. E assim sendo, estando nos comandos, não merecem mais consideração que um
cidadão comum. Merecem consideração e ponto final, pelo que é inútil a qualquer
deles convencer-se de que é “líder”, ou “guia”, enfim alguém pré-destinado e superior
aos cidadãos comuns. A conquista do poder, seja este o poder nacional ou o
poder local, não confere ao homem que a isso ascende, se é honesto, o estatuto
de iluminado, passeando-se com prazer e permitindo-se rasgar promessas com as
quais foi eleito e a pôr de lado compromissos com os quais levou os seus
concidadãos, pelo voto, à crença de uma sociedade mais justa e de procedimentos
mais limpos. A ausência de tais reis temporários é o principal fundamento de
uma República e a coerência entre palavras e atos é o principal pilar do
sistema democrático, pelo que um eleito, a partir do momento em que é eleito
torna-se num servo do povo, devendo obediência aos cidadãos. E é isto que tem
sido posto de lado aqui, ali e além, por alguns que, quer a nível nacional quer
a nível local, têm reduzido a conquista do poder, qualquer que seja o nível de
poder, a mero resultado de operações de marketing e de propaganda ululante,
quando não de embuste público, numa total contradição com o que uma República
é, e, pondo em crise o que um sistema democrático deve ser, decretam pelo
prazer e pela conveniência de interesses difusos contra os quais não levantam
um dedo.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante copo: A propósito da iniciativa “Vinhos do Algarve em Lisboa” ( Sala Ogival da ViniPortugal no Terreiro do Paço, 18 e 19 de Maio), um ditado que assenta bem: mais vale um copo de vinho que 100 verdades… Excelente iniciativa a sugerir que numa mesa do Algarve, haja vinho do Algarve.
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