O temor é que o
turismo morra selvagem como selvagem nasceu e cresceu. As Canárias bateram
em 2011 o record de visitantes explicadamente pelo desvio de turistas do Magreb
devido à instabilidade política. No ano passado as Canárias receberam cerca de
dez milhões e meio de estrangeiros, face aos 8,5 milhões do ano anterior, o que
traduz um aumento de 20 por cento, com a Alemanha a surgir como o principal
mercado. Já quanto ao Algarve, como se sabe, perdeu quotas de mercado e viu as
expetativas e resultados desceram a um ponto tal que os números do desemprego
já não podem mascarar a realidade. Associada ao tombo, o turismo algarvio anda
por esse mundo afora com a imagem da insegurança (quem não sabe disso?), da
incultura nas relações humanas (o episódio do aeroporto de Faro correu mundo) e
do desrespeito ambiental, rebenta um ETAR e tudo pela calada, nunca há uma
explicação para a imundície). Ou seja, o Algarve em vez de atrair, afugentou; e
em vez de receber bem quem já cá chegou, tratou com pés. Todos nos recordamos
das contas que alguns responsáveis fizeram em 2009 quando o Norte de África foi
ao rubro, mas foram contas furadas. Um turismo sem competitividade, sem
promoção externa e interna adequada, com a irresponsabilidade e o oportunismo a
campear nos departamentos públicos, com o provincianismo balofo a ser
sistematicamente eleito para câmaras e juntas de freguesia (com especuladores a
subirem as curtas escadarias daquelas almas), e sem estrutura cultural pensada
com golpe de asa, peso e medida, naturalmente que o Algarve não podia ter
conseguido o que as Canárias conseguiram. Antes pelo contrário, só podia ter
regredido, os resultados estão à vista e não são explicáveis apenas pela crise
– também se explicam pelo lado selvagem que marcou o turismo algarvio logo à
nascença, com qual marca cresceu e se exibe sem se aperceber das causas pelas
quais o terreno lhe foge debaixo dos pés.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante advertência: Preparemo-nos para o pior porque a realidade aponta para isso.
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