O labor dos deputados avalia-se fundamentalmente por quatro
parâmetros: iniciativas, requerimentos, perguntas e intervenções. O resto será
normal serviço de agenda, decorrências do valor e prestígio pessoal, por vezes
turismo político mais ou menos justificado, ou ainda foguetes deitados ao ar
independentemente de quem apanha as canas. E durante uma legislatura, para o
balanço da atividade política que cada um dos deputados possa fazer perante os
que diretamente os elegeram, contam obviamente mais as iniciativas próprias, os
requerimentos sobretudo ao governo que tenham relação direta e útil com os
anseios das populações que representam, as perguntas que não tenham apenas
verbos de encher e as intervenções que tenham impacto nos centros de decisão e
que, portanto, não sejam só para inglês ver e meros pretextos para a imprensa
os citarem, de preferência para eles com fotografia, quanto maior melhor. Já
não interessará tanto o que fizeram por arrastamento de outros e em matérias que
nada tenham a ver com a região, o que subscreveram apenas para fazer número, o
que manifestaram, enfim, por calculadas solidariedades partidárias e jogos
espúrios de poder ou contra-poder. Acaba a legislatura, os deputados já não
podem fazer o tempo voltar para trás – o que fizeram está feito e o que não
fizeram já não pode ser compensado.
No site oficial da Assembleia da República, está lá toda a
atividade dos deputados eleitos pelos algarvios desde 15 de outubro de 2009, os
seus registos de interesses, em suma, o mapa psicológico e político de cada um
deles, e também o seu valor, a bitola de afirmação nas bancadas a que
pertencem. Nada disto pode ser iludido por crónicas de jornal ou rebuçados
atirados da televisão como os foliões fazem nos corsos de carnaval. A atividade
do deputado é no parlamento e é indecoroso que insistam ou tentem disfarçar a eventual
lassidão parlamentar ou a submissão a diretivas que ponham em crise as
legítimas expetativas do eleitorado, com fogacho e basófia que assim será se
não corresponder ao trabalho deixado em S. Bento.
E vendo bem o que consta, o panorama do trabalho feito pelos oito
deputados saídos cá do círculo desde outubro de 2009 até à data da dissolução
do parlamento é geralmente pobre. As incitativas próprias são de modo geral de
horizonte limitado; os requerimentos, também de modo geral, ou são reverenciais
ou de lógica perversa; as perguntas são genericamente talhadas para não
merecerem resposta ou ganharem resposta do género de chover no molhado, e
quanto às intervenções, ou são mera retórica ou pura e simplesmente são
acríticas e, quando não parecem isso, são medrosas. Lamentavelmente, apenas um
dos deputados pode apresentar um balanço digno de ser apreciado, discorde-se ou
concorde-se com o seu conteúdo e objetivos – José Mendes Bota.
Na generalidade, os deputados que de cá saíram, saíram pelo Algarve
mas também poderiam ser apenas deputados de Porto de Mós ou do Alandroal. Os
novatos estão perdoados porque são novatos, mas os principais não. E foi pena.
Carlos Albino
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Flagrante palpite: Como já é tradicional, o palpite com todo o direito ao
erro, agora que são 9: 4 para o PSD, 3 para o PS, 1 para o BE e 1 para o PCP. E
se não forem 3 para o PS mas apenas 2, será 1 para o CDS que no Algarve
beneficia sempre dos erros de paralaxe. Não é Bacelar Gouveia, saudoso?
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