quinta-feira, 11 de março de 2010

SMS 354. Título auto-censurado


18 março 2010

Foi uma boa dúzia de títulos para iniciar este apontamento e todos foram sacrificados por auto-censura – ou porque um sugeria desprimor, ou podia outro ser mal interpretados como afronta pessoal, ou pareciam vários ter partido de pessoa desejosa por que a democracia sucumba e venda a alma. E por isso, desta vez, todos os títulos foram cortados exclusivamente por declarado exame prévio e não por pressão do poder. Tudo a propósito do Orçamento ou da forma como o Algarve é considerado no Orçamento, e do comportamento dos deputados que o Algarve elegeu certamente para representarem o Algarve e não para serem delegados automáticos do poder que está ou do que poderá vir. À evidência, este Orçamento desconsidera o Algarve relativamente a todo o resto nacional, numa desproporção injusta, sem equidade e, mais grave, com uma indiferença sobranceira – o que apenas se compreende porque o poder há muito que explora o facto dos algarvios abafarem protestos por mais legítimos que sejam, e, contrariamente à fama secular que ganharam, os algarvios preferirem o silêncio tolerante face ao poder, pondo de lado a tal algaraviada antiga. O poder sabe disto e abusa. E para este abuso há deputados cá do círculo que manifestamente contribuem por atos e por omissões.

Mas muito para além das prontas explicações do deputado Mendes Bota para a sua recusa em votar este Orçamento - o “não” do BE explica-se a si próprio -, havia natural expectativa em que Miguel Freitas explicasse o seu “sim” amalgamado na maioria relativa para a qual altamente contribuiu sem que daí tivesse tirado ilações políticas. E expectativa ainda em que ele explicasse isso do princípio até ao fim, sem artifícios, sem aqueles números apresentados como palavras cruzadas e sem aquela prática corrente que está a corroer a democracia e que consiste no “mostrar serviço” não aos eleitores mas aos da “ordem superior”, expressão de casta que volta a ser usada presencialmente e por ofício. Mas foi isto que acabou por acontecer um tanto inesperadamente, diga-se, a dar prova da fraca ou baixa qualidade do debate político no Algarve. É que Miguel Freitas em vez de explicar e de se explicar sobre a razão pela qual o Hospital Central do Algarve se tem arrastado e foi adiado anos e anos, questiona agora Mendes Bota sobre se Passos Coelho quer suspender o hospital suspenso... É que Miguel Freitas que não questionou quem, com poder, decidiu adiar e protelar o projeto, questiona agora quem nem sequer pode ainda decidir e quem, ao que se sabe, não apresentou a rigor qualquer proposta ou sugestão de adiamento do hospital que é, de resto, um pormenor da região. Pormenor a que Miguel Freitas recorre para não explicar o que importa, pois o que importa é o Orçamento, e já agora o QREN, o PIDACC, enfim, o investimento público efetivo no Algarve, orçamentado ou não orçamentado. E ao recorrer a isso, força-me a censurar o título para este apontamento.

Carlos Albino

    Flagrante calafrio: O da pedofilia que abana a igreja católica na Irlanda e na Alemanha. E não vamos mais longe...

Sem comentários: