quinta-feira, 4 de março de 2010

SMS 352. Falemos então do “Allgarve”


4 março 2010

Já tinha prometido a mim próprio não voltar a escrever uma linha pública sobre o programa lançado por Manuel Pinho. Primeiro, porque já disse o suficiente sobre a designação do programa e sobre a relação direta e útil que o programa possa ter na cultura, melhor, na política cultural e nas práticas ou vivências culturais dos que passam pelo Algarve e sobretudo dos que vivem no Algarve como lugar do mundo que escolheram ou a que estão amarrados por destino reconfortante ou não. Segundo, porque já desafiei bastante os decisores para que digam de uma vez por todas o que entendem por cultura já que de forma quase majestática outorgam cultura, portanto sem aceitarem discussão, debate e diálogo e, pior, sem darem contas dos resultados além das contas de quem ganha com isso. Terceiro, porque não tenho paciência para dissertar sobre fogos de artifício. Mas quebro a promessa e voltarei a falar do “Allgarve” uma vez porque, segundo foi anunciado, o programa foi ampliado ou reforçado, certamente em função dos resultados e das contas.

Mas ao voltar a falar do “Allgarve” não posso evitar referir alguns pressupostos, sendo importante que fiquem em letra de forma. Primeiro, nada tenho contra criadores, artistas e animadores que o programa movimenta e paga para pôr em cartaz – fazem o seu papel, alguns neste passado recente até o fizeram bem e não são culpados dos critérios seletivos. Segundo, nada tenho contra museus, fundações e demais instituições culturalmente beneméritas que desenterram material das caves – fazem bem desenterrar e oxalá que tenham lucrado, com transparência, alguma coisa com isso. Terceiro, nada tenho contra os responsáveis colocados no terreno, sejam eles comissários, antenas municipais e entusiastas por dever de ofício – não está em causa a sua competência, muito menos a sua devoção pela cultura. Quarto, nada tenho contra os municípios que acriticamente aderiram e continuam a aderir ao programa, vendo nele um supletivo ou mesmo o indeclinável preenchimento de lacunas “culturais” que as gestões camarárias por si sós não conseguiriam no quadro do que se convencionou designar por “animação” mesmo que se admita que a animação seja pouca e de cultura pouco mais tenha do que a sensação de efémeros eventos como outrora nas missas em latim – tudo muito bonito mas a generalidade não entende. E quanto a pressupostos, estão todos – o programa “Allgarve” não faz adversários, muito menos inimigos, mas é algo que, pelo impacto, propaganda de sobrevivência e conveniência mecenática, é passível de debate no que o programa tem a ver com o patamar da decisão política, designadamente da política cultural para uma região que se chama Algarve

Então o que está em causa? Manuel Pinho já se pirou como ministro, e como ministro furtou-se ao debate no tempo devido com quem devia (foi uma espécie de Lurdes Rodrigues da animação turística desfocada da cultura, suportado por acólitos – e é pena porque ele tinha e tem qualidades - , mas o que está em causa permanece atual, melhor, fica atualizado com a decisão política de ampliar e estender o programa, o que não um mal em si, mas atualiza a premência de indagar o que este governo sem Pinho entende por cultura e como recorta a animação turística do que se pode e deve entender por Cultura, pois a outorga governamental se esgota no conceito de animação e parece não se comover com uma adiada estratégia regional de cultura, séria e galvanizadora.

Não se pode dizer tudo de uma vez porque os pressupostos tinham que ser postos em letra de forma. Na próxima semana vai mais uma pitada.

Carlos Albino

    Flagrante insistência: Há uns quantos cargos públicos no Algarve (que até não são muitos) que devem ser confiados apenas a Algarvios. Como outrora se ouvia na praia do Monte Gordo, Oh mé m’nino rico, você sabe nadar ou quer q’eu o aprenda?

Sem comentários: