quinta-feira, 11 de março de 2010

SMS 353. O que fica?


11 março 2010

Pois o que fica de cada Allgarve, aquelas letras que anunciam a entrada na região por terra e ar, sem que haja outra coisa a indicar o nome que a região tem? Há todo o interesse em questionar o que disso fica, o que isso representa ou significa, mesmo que este momento que atravessamos fosse de vacas gordas e o dinheiro desse para tudo pois não dá para quase nada.

Temos tido dança, certa dança. O que fica da dança? Temos tido pintura e escultura, aliás certa pintura e certa escultura. O que fica das exposições? E tem havido música, com certeza. O que fica? Que teatro fica a não ser o que sem Allgarve já existia? E que cinema? E que literatura? Portanto, que práticas culturais ficam, que vivências culturais, que agendas culturais?

O erro que enche o bojo desse programa está precisamente em sugerir que ele inunda o Algarve de cultura e recreio, levando a crer que tudo o que, quanto a cultura, o Algarve carece, não excede a animação turística, provoque tal animação ou não recreio. E como o dinheiro não dá para tudo, a cultura fica por aí, acrescentando-se, quando muito, o que alguns municípios fazem por si próprios ou podem fazer por si próprios, fora da grandeza aparentemente esmagadora do programa Allgarve.

É pois um erro de política, o erro que o programa arrasta, ao afastar qualquer ideia ou propósito de estratégia cultural no Algarve e para o Algarve pensado como um todo, estratégia essa que galvanize, potencie e sobretudo qualifique as iniciativas locais e que tantas vezes, sem a existência de tal estratégia, são degoladas pelo carrasco do provincianismo e do localismo.

Nisto, e na falta de desconcentração coerente, para já não se falar de uma descentralização com pés para andar e braços para mexer, o ministério da Cultura tem-se demitido das suas funções no Algarve e, pior do que isso, logo desde início deixou-se ultrapassar precisamente pelo ministério que tutela o programa de animação, não se podendo exigir ao ministério da Economia que faça o que o da Cultura não faz, ou porque não pode, ou porque não quer, ou porque não lhe interessa. E aqui é que bate o ponto: o erro não está tanto no programa que o ministério da animação turística movimenta com mais l ou menos l, mas sobretudo na ausência de estratégia do ministério da Cultura para a região, sendo essa a prova de que não está desconcentrado, muito menos descentralizado, porque se assim estivesse, poder-se-ia discordar da estratégia, mas tinha estratégia. O que o ministério da Cultura tem por aqui, e que propõe ao lado do tal programa do ministério da Economia, é uma tática – a tática de distribuição dos subsídios possíveis, e que tal como o orçamento está, tal tática será sempre vista como um mal distribuído pelas aldeias.

Carlos Albino

    Flagrante sugestão: À falta de perguntas para um exame de consciência dos deputados eleitos, sugere-se esta: “Eu fui eleito por aquilo que eu sou e valho, ou fui eleito porque o partido me fez eleger independentemente do que eu sou e valho?”. Garante-se que as respostas ficarão em segredo de justiça.

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