quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

SMS 350. Factor anímico


18 fevereiro 2010

Não há casa, café, rua ou mesmo alma que não esteja inquieta e, pior que inquieta, dividida sobre o que se está a passar. E não vale a pena dissimular pois a vida está como que suspensa desse factor que é a condição sine qua non de uma democracia que não seja arremedo ou não esteja mascarada. O factor é a confiança pública nas instituições e em instituições que não dependam dos indivíduos ou de qualquer que seja o indivíduo. A confiança pública nas instituições é o factor anímico, e sem esse factor haverá e sentir-se-á um vazio que jamais poderá ser preenchido por olhos que se vêem sem se ver os corações. Há muito que, aqui na poderosa repartição do estado e ali no pequeno pedestal da autarquia, ou este lá mais ao alto e aquele cá mais ao baixo, têm vindo a esticar a corda da confiança pública, em casos isolados mas cujo somatório crescente começou deveras a inquietar. Há muito que se foi notando que o poder estava a cair em mãos de quem trata da coisa pública assim como se joga ao pocker. Com jogadas, portanto. Mas ainda se acreditava na capacidade de escrutínio dos partidos, designadamente a capacidade de escrutínio interno, pois na verdade os partidos numa democracia não servem apenas para a conquista do poder pelo voto mas sobretudo para o escrutínio do exercício do poder e para o impedimento de jogadas de pocker ou de política decidida por golpes. Em qualquer democracia plena, os partidos são isso e servem para isso, doa a quem doer.

Só que, aquilo que se está a passar, não tem nada a ver com casos isolados nem com o seu somatório que, com toda a paciência, creio que todos estão dispostos a aguentar porque naturalmente o próprio calendário eleitoral e a garantia de eleições impõe, como preço, que todos tenhamos paciência com jogadas e jogadores. O que se está a passar tem a ver com o factor anímico de que o país precisa – confiança pública.

Ora este factor não depende dos votos, nem vai a votos, muito menos será corolário desse exercício de moções que de vez em quando agita o parlamento – esse factor ou se tem ou não se tem, ou há ou não há. E até já dependeu da crença que vinha dos discursos, da propaganda ou mesmo das figuras, mas já não depende disso – a confiança, agora, como nunca até antes de ontem, depende das convicções que o eleitor paga como contribuinte e das evidências que o contribuinte promove como eleitor, muito embora tais convicções e evidências sejam perturbadas, sem dúvida, por uma falange de serviçais da política que se encastoaram nos partidos como empregados de casino. E é isto que deve acabar, tem que acabar desde cá de baixo até lá ao alto, se queremos Democracia e se queremos que Democracia signifique confiança pública, sobretudo confiança nas instituições. E assim sendo, o problema não é tanto o da credibilidade do poder, mas o da confiança no poder.

Carlos Albino

    Flagrante pergunta: Afinal, a segurança social quer mesmo acabar com os centros comunitários ou não? Será razoável esperar que responda inequivocamente quanto antes aos referidos centros.

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