11 fevereiro 2010
O raciocínio que subjaz aos jogos de azar é o pior dos instrumentos para a economia pública. E mal vai uma sociedade quando os grandes investimentos não são planeados pelo previsível e em função de soluções para problemas previamente enunciados com rigor. Na verdade, a primeira pergunta a fazer para os investimentos públicos deve ser esta – qual é o problema? Mas não, os que lançam à sorte em última análise os dinheiros do contribuinte não formulam qualquer problema e avançam com soluções, as suas soluções mesmo que não haja problema. E depois que tenhamos sorte porque se fica a depender da sorte, coisa que é mais cega que o acaso. É assim que temos elefantes brancos, como no caso dos estádios com que se polvilhou o país como se polvilha um pastel de nata com canela.
Não duvido que um estádio para o Algarve fazia falta, mas não sei qual foi o problema que se formulou ou que problema; sei apenas que se arranjou aquela solução independente do problema pois um circunstancial jogo Portugal-Rússia de que pouca gente já se lembra, não era um problema do Algarve. Mas também não duvido que se julgava que o Farense iria ser uma equipa de referência nacional, ou que à falta de sorte com o Farense, o Louletano subiria a esse escalão mobilizador de multidões, de negócios certos e lucros compensadores. Ou ainda que, em caso de falta de sorte do Louletano, o Olhanense cumpriria esse papel de garantir uma justificação pública a um estádio público, se é que, mais remotamente alguém não tivesse pensado no Portimonense a fazer de suplente para a sorte do estádio. Julgava-se também que o estádio, ficando no internacionalizado Algarve, seria o cenário privilegiado com alguma regularidade para jogos internacionais, para torneios internacionais, enfim, para esses eventos que não apenas um mas oito ou nove elefantes brancos disputam, cada um para contornar a má sorte. Também se julgava que, depois do estádio, também ali ao redor haveria sementeira rápida de outros investimentos ou soluções para problemas, porque se julgava que o governo central era um seguro aliado de quem reclama soluções para problemas. O Hospital Central que devia estar lá há muito, não está, e outros equipamentos públicos ou estruturas de serviço para todo o Algarve que lá poderiam estar, também não estão, alguns, por assim dizer foram para recônditos becos de Faro por questão de bairrismo atávico e de capitalidade pífia. Faro está sem dinheiro, Loulé não quer e também não poderá dar mais um cêntimo, e o governo (o actual, os anteriores e por certos o que se lhe seguirá) onde os interesses algarvios não pesam nem onde o Algarve tem influência decisiva muito menos decisória, tem uma fila de elefantes brancos a quem acudir por falta de sorte.
Portanto, julgava-se que e agora explicam alguns que daqui a trinta anos talvez haja sorte, continuando-se a não formular o problema que é por onde se devia ter começado.
Carlos Albino
- Flagrante solução: A de revivificar o centro antigo de Faro com os estudantes universitários, como o reitor João Guerreiro propõe e Coimbra ensina há séculos. E para tanto comecemos por uma ponte aérea entre Faro e Gambelas sem molestar aquela exemplar espécime urbanística que é o Montenegro…
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