quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SMS 345. É com choques de adrenalina?


14 janeiro 2010

Não foi um sismo de grau 8 nem um furacão mas muita gente ficou estupefacta. O líder regional do PS, Miguel Freitas, que ao longo do exercício da maioria absoluta do seu partido nem um laivo de reparo político enviou lá de Bruxelas, e que na campanha eleitoral das legislativas também se isentou de qualquer crítica ao rumo governativo, ao procedimento de decisores ou mesmo às manifestas opções partidárias (o caso das listas, por exemplo), agora que a sua formação perdeu a maioria e que o governo está mais que feito à imagem e semelhança do anterior, acordou. O governo fez a opção que fez para o governo civil, e Miguel Freitas, de pronto, justificou que isso foi no interesse dos algarvios; nomeou gente para cargos regionais ou procedeu a transferências e, também de pronto, explicou que cada caso era para o bem do Algarve. E também foi assim, nesse outrora da maioria absoluta, da saúde à educação, do turismo aos transportes, passando pela atribulada política de segurança. Ninguém obviamente levou a mal a pose de Miguel Freitas porque aparentemente cumpria o seu papel – dirigente regional do partido do poder e alto funcionário do estado por confiança política, ele não podia fazer números de oposição, por si e pelo partido. Agora que as legislativas passaram e que era o tempo, e sem que se saiba ao certo se voltará a suspender as funções de deputado (a sua comissão em Bruxelas foi renovada por mais três anos, em 1 de Setembro, por despacho do ministro dos Negócios Estrangeiros), Miguel Freitas diz o que no fundo Mendes Bota está farto de dizer, o que mais ou menos o PCP não enjeita e o que o BE repete. Ou seja, faz um número de oposição talvez porque tenha chegado à conclusão de que os péssimos resultados eleitorais do PS no Algarve foram em parte devidos ao facto da pregação oficial não ter convencido o eleitorado algarvio. E então, diz Miguel Freitas que o Algarve, por efeito da acção governativa, tem vindo a perder influência política e que as competências dos organismos desconcentrados na região têm sido esvaziadas, verificando-se mesmo, diz, “um definhamento crescente” e exemplifica com o caso do turismo discorrendo sobre a “tentativa para reduzir a autonomia” da Entidade Regional dessa matéria… E mais, o que parece só agora também descobrir: que apesar do Algarve ter o título estatístico de região rica, que “crescemos concentrados numa só actividade, fortemente dependente de fluxos externos e gerando excedentes financeiros que são na quase totalidade absorvidos pelo exterior, com mão-de-obra pouco qualificada, com emprego precário”. E então, preconiza Miguel Freitas que “o Algarve está a precisar de um choque de adrenalina” e que “tem de sair do estado de dormência em que se encontra”. Mas que descoberta! Andamos a dizer isto há anos.

Resumindo e concluindo: Miguel Freitas teve um choque de adrenalina. O Algarve ainda não. E duvida-se se isto vai com choques de adrenalina ou se será uma forma correcta de interpretar a política e proceder ao tal almejado “aprofundamento da democracia” a de se provocar artificialmente choques, virando o disco e tocando a mesmo música.

Carlos Albino

    Flagrante apelo : Estimem a ACTA, honrem o valor desse actor e encenador que se chama Luís Vicente. Faro perde-se como capital quando julga ganhar questiúnculas.

Sem comentários: