quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

SMS 344. A epidemia dos reis na barriga


7 janeiro 2010

Lutou-se e luta-se, e bem, contra a gripe A. Foram campanhas de prevenção, vacinas, medidas contra o pânico, enfim, até a ministra encheu 2009 num tu cá tu lá com o cidadão soletrando com óculos descaídos a explicação de alguma das poucas mortes ou transformando em homilia a parábola de uns casos suspeitos e desdramatizando algum receio de surto. Assim tivesse acontecido ou venha a suceder com todos os surtos e com todas as epidemias. Contra uma desses surtos, por exemplo, e que grassa mais do que a gripe A, que é o surto epidémico dos reis na barriga, ninguém mexeu uma palha. Temos por aí muitos e graves casos, havendo fundamentados receios de que, sem vacina e sem campanhas de prevenção, o surto alastre por contágio e por simples espirro. Claro que falo de política e da política algarvia – há gente afectada por esse mal que basta espirrar para contaminar quem esteja por perto sem que o sinta, pois a doença dos reis na barriga é silenciosa, discreta e não causa cólicas.

Um dos sintomas desse mal que não custa acreditar que seja epidémico, é fazer-se crítica por ressaibo, parecendo crítica mas não é – é mero rancor, ressentimento, ranço se quiserem. Quem tem o rei na barriga tem, com toda a coerência da doença, aquele mesmo sentimento ou tique próprio dos reais reis que nascem e são educados na ideia de que o povo lhes pertence recebendo esse mesmo povo por herança tal como se herda uma casa, um terreno ou um canito de estimação. Mas com uma diferença: os reais reis têm o povo na barriga, enquanto os contagiados pelo surto têm na barriga o próprio rei. Claro que falo de política e da política algarvia que sendo um mundo muito pequeno, fechado e onde todos os contagiados se conhecem uns aos outros, leva a que, não existindo anonimato social dos portadores de reis na barriga, torna vulgar esse coerente pudor de cada contagiado por tal mal, confidenciar a qualquer outro que apresente sintomas do mesmo mal, que está contagiado, mesmo que os dois espirrem em simultâneo. Claro que falo de política algarvia.

O contagiado pelo surto dos reis na barriga pensa pois que eleitorado lhe pertence. Por isso, ainda que eleitorado o tenha aconselhado a ficar em quarentena, não suspende funções. E se, por medida mais grave que a quarentena, o mesmo eleitorado lhe sugere sem equívocos que aceite o internamento na vida civil comum, o contagiado não se demite e, antes pelo contrário, simula ter aquela vitalidade de falsete que leva ao ressaibo, ao ressentimento, ao ranço, ao rancor, como quiserem, pois os sinónimos para as consequências de ter se ter o rei na barriga são muitos. Claro que falo da política algar… (para bom entendedor meia palavra basta).

Carlos Albino

    Flagrante omissão de prémio: Tem sido tradição atribuir-se, por ocasião do Dia de Reis, o tal prémio anual SMS de Jornalismo que não dá cheques nem t-shirts sendo mera consideração. Pelo segundo ano consecutivo não se vê fundamento de maior para que haja prémio. Alguém do júri ainda sugeriu premiar-se ex-equo o grupo de autarcas que escreve aquelas “crónica” no Correio da Manhã. Mas, santo deus! Aquilo não são crónicas, são editoriais de agendas municipais… Posto isto, aguardemos por 2011.

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