quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

SMS 340. Clima político inquinado


10 Dezembro 2009

A política nacional é uma coisa, a regional (a algarvia, naturalmente, é a que aqui nos interessa) é outra, embora ela faça parte do puzzle – todos compreendemos isso. Ora, a política algarvia vive essencialmente do que os deputados eleitos pelo círculo fazem e dizem, do que os autarcas (do de menor expressão ao de maior impacto) prometem, decidem e planeiam, do que os dirigentes regionais dos partidos em especial os líderes  (com mais incidência nos dos partidos com assento parlamentar) proclamam, anunciam e justificam. Depois, só muito depois, conta a legião de administradores regionais, de directores regionais de áreas governamentais e de delegados de ministérios, os quais não podem nem devem exceder os limites das suas competências e atribuições, e que além disso,  porque a autonomia é administrativa, embora possam, não devem falar de motu proprio à revelia da tutela ou em nome de políticas divergentes caso assim queiram, demitem-se ou, na lógica, são exonerados por quebra de confiança política. Ninguém os recrimina por esse papel de correia de transmissão, fazem o seu papel e assim cumprem a sua missão, pois, como também todos querem que a cumpram bem sem que o sapateiro vá além da sola, também ninguém aceitará prepotências, autoritarismos e excessos de poder como por vezes tem acontecido ou ido além das marcas - são nomeados e não eleitos, e embora usufruam e exerçam a corrente do poder central eleito, não estão sufragados directamente como os deputados estão pelo círculo e os líderes partidários dentro dos respectivos partidos. Ppor entre esta legião de nomeados está obviamente a figura que ocupa o governador civil, a qual delega, por natureza, o ministério da Administração Interna que é quem a nomeia, além de uma função de representação do governo e de informação para o governo, representação essa emblemática ou simbólica e que, num contexto de não-regionalização se aceita, mas que não é mais do isso, a não ser que, por exorbitante exercício de populismo por vezes também se faça crer ou leve a crer que é mais do que isso. Neste quadro, os administradores administram, os directores dirigem e os delegados delegam. Quem o façam bem e que conciliem a cordialidade com a transparência - é o que se lhes exige e, por certo, é também o que governo quer. Pelo contrário, também inquinam o clima político da região que, não vale a pena dissimular, está inquinado.

E o clima político algarvio está inquinado porque, primeiro, já se adivinhavam logo em Junho/Julho as consequências do facto dos principais partidos terem imposto, para o parlamento nas eleições de Outubro, listas desconformes com gente sem relação directa e útil com a potencial região, sobretudo para os lugares elegíveis. E como, numa democracia, o que à cabeça conta é o poder (os partidos não são associações de benemerência - visam a conquista do poder para o exercer) o foco de inquinação é obviamente mais notado no partido que legitimamente, no plano nacional, conquistou esse poder, e, secundariamente, no se lhe opõe mais directa e concorrencialmente. Fala-se do PS à cabeça, e do PSD, está claro.

É por isto que não se entende esse bordão do líder regional do PS, Miguel Freitas, usado repetidamente para justificar decisões ao arrepio da ética política (no que toca ao parlamento) mas também das lições que deveriam ser tiradas do exercício de cargos por parte de nomeados. Seja qual for a mudança - para cima, para o lado ou para o biombo - qualquer mudança, conforme se apressa Miguel Freitas a explicar ao povo, foi “no interesse dos algarvios” e para “o bem da região” num apostura acrítica que confrange. Mas que interesse? Que bem? Que fundamentação política? Um algarvio que o seja, ou nisso se tenha tornado e seja aceite, não fala assim perante as evidências que não se descrevem para não haver sequer cheiro de ataque ou questão pessoal, tratando-se questões essencialmente políticas e que inquinam o clima político.

Carlos Albino

    Flagrante diferença: Entre Isilda Gomes antes de se demitir do governo civil para se candidatar ao parlamento e Isilda Gomes depois de uns dias de deputada eleita abandonar S. Bento para voltar ao governo civil. Diferença política, claro está. Não tem nada de pessoal.

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