O barulho está a transformar-se no Algarve numa arma de destruição maciça. As câmaras concedem licenças a bares sem condições para o que dizem ser espectáculos de música ao vivo; a autoridade policial quando muito faz uma discreta intervenção; a ASAE que anda por aí a indagar qual a empregada de balcão que tem brinco na orelha, fecha os olhos, e algumas zonas de diversas cidades e vilas do Algarve são verdadeiros infernos. Chega agora o barulho às praias, com algumas esplanadas, até nas horas de sol, a apontarem o batuque para o cidadão que lá foi para ouvir o mar, inebriar-se com o azul do céu e descansar do mundo.
O curioso é que este mesmo Algarve feio e mau também parece estar sedento de silêncio, investindo verbas apreciáveis para aparentemente minorar o ruído. É o caso das câmaras que mal conseguem uma circular ou uns escassos quilómetros de estrada nova, não hesitam com uma rapidez espantosa colocar painéis contra o barulho ao longo dos mesmos quilómetros para quando muito protegerem apenas cinco ou seis ouvidos no descampado ou meia dúzia de casotas de cão novas apresentadas como novas vivendas. No entanto as mesmas câmaras nada fazem para impedir a poluição sonora dentro das cidades e vilas que tutelam, e nessa indolência e permissividade são gloriosamente acompanhadas ou secundadas pelas autoridades policiais mesmo que sejam solicitadas para acabar abusos, provocações e impunidades.
É claro que o Turismo é algo demasiado sério para que presidentes de câmara e autoridades o possam invocar em vão. O turista não vem ao Algarve para encontrar barulho a todos os cantos – há sítios apropriados para isso, há um enquadramento legal para a actividade de discotecas e de bares, há regras que definem as fronteiras entre a poluição sonora e o som que cada um quer comprar.
Carlos Albino
- Flagrante advertência: Há entusiasmos que irritam porque não correspondem bem à verdade e apatias que causam repugnância porque toda a gente gostaria que não correspondesse bem à mentira.
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