Enquanto os jornais portugueses se entretinham nas primeiras páginas com a contagem de baldes nas prisões, com as dúvidas do homem-lobo em submeter-se a uma operação ou não e com um tal jogador romeno de que ninguém tinha ouvido falar mas vem salvar um grande clube, a imprensa espanhola destacava nas mesmíssimas primeiras páginas a decisão dos tribunais do país vizinho em mandar demolir meio milhar de edifícios na costa cantábrica, enquanto mais 400 no município de Piélagos, junto ao parque natural de Liencres, estão pendentes de recursos (para esta urbanização fez-se engolir um monte…). O governo regional da Cantábria declarou-se já incapaz de executar as sentenças de demolição e percebe-se porquê: a UE ainda não criou fundos estruturais para corrigir as asneiras de políticos aliados a investidores sem escrúpulos e, aqui para nós que ninguém nos ouve, Bruxelas não se comove com as brincadeiras escolares de arquitectos risonhos.
Estamos em crer que, não agora mas daqui a dez, vinte anos, ou quem sabe se não será mais cedo, daqui a cinco anos, no Algarve também irão ocorrer demolições decretadas por tribunais (que, para que haja esperança, também terão a sua evolução nos alicerces) ou decretadas por futuros governos (se o sistema democrático não criar regimes de interesses, no que alguns ingénuos nunca acreditaram que viesse a acontecer). E onde é tais demolições irão ocorrer? É preciso dizer?
E sobre algumas «urbanizações» que, junto de povoações consolidadas, estão a surgir com desmedido volume e com traça à maneira e estilo dos bairros operários de Manchester nos finais do século XIX, havemos de falar.
Carlos Albino
Flagrante doença: A saúde regional, como se viu e ouviu, está mesmo doente e, além disso, com falta de civilidade, incapacidade de diálogo e sem a tolerância a que a democracia obriga e faz condição.
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