A propósito de deputadas e deputados do Algarve, o que mais se ouve dizer é que «representam o Algarve e não fazem nada», também que «falam do Algarve porque os seus estão no poder», ou ainda que «só agora falam porque estão na oposição» … É claro que sempre há um ou dois representantes que lá fazem requerimentos, perguntas a ministros, enfim, sempre é um ar de «representação da região», muito embora o interesse principal seja o de que jornais e rádios da redondeza dêem conta de que «o deputado algarvio requereu» ou que «a deputada algarvia perguntou», o que não deixa de ser uma prova política de vida que faz bem de vez em quando fazer, caso a política seja uma espécie de pensão. Para esta mesma prova, não todos mas alguns, preferem publicar artigos de tese ou de antítese, ou então «visitas ao local». E não se sai daqui porque há um tremendo equívoco, melhor, há uma cultura política de equívocos que leva ingénuos a considerar cada deputado ou deputada como voz da região, impulso ingénuo esse que se compreende porque o Algarve não tem voz política e bem dela precisaria.
E porquê?
É evidente que os deputados, por força do seu estatuto, logo à cabeça «representam todo o País, e não os círculos por que são eleitos.» O estatuto, ao explicitar que não representam o círculo que os elegeu, diz tudo. E os deputados falam do círculo ou das coisas do círculo é porque o partido tolera isso ou isso lhe convém, conforme as circunstâncias. O resto é conversa sendo raros os que se atrevem a pôr em risco a reeleição pelo círculo que acabam por não representar ou por não poder representar por força do estatuto, ainda que contraditoriamente o mesmo estatuto obrigue os mesmos deputados ao dever de «assegurar o indispensável contacto com os eleitores». Esta estranha indispensabilidade tem muito a ver com o equívoco.
Daí que tenha de ser um retirado de São Bento, Luís Filipe Madeira, em declarações ao semanário Sol (Helena Pereira, 5/Outubro) a dizer em letra grada que não viu «passos em frente no sentido da descentralização» e que «existem é órgãos desconcentrados que são governados pelo telefone». Algum deputado do PS ou que o círculo elegeu pelo PS seria capaz de dizer isto? Se calhar, será o próprio PS do Algarve que está a ser governado pelo telefone. Continuem assim que vão bem e longe, porque, sob outra forma e sofisticação, repetem-se os erros dos políticos algarvios da I República e que foram erros dos políticos algarvios e não tanto da I República.
Carlos Albino
Flagrante comparação: A política algarvia está para a música clássica assim como a filarmónica de Paderne está para Orquestra do Algarve.
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