Na entrevista ao Expresso (Nuno Saraiva, 29/Setembro), a ministra da Cultura anuncia a requalificação da Fortaleza de Sagres. Isabel Pires de Lima mais não diz, mas o propósito da requalificação já é um bom sinal.
Na verdade, tal como ficou das últimas intervenções impostas, Sagres resultou numa vergonha, em cinco atropelos e em sete insultos, em que manifestações secundárias de adolescência arquitectónica e visões corporativistas do passado se cruzaram ou casaram com comunhão de adquiridos. Assim, é oportuno perguntar-se o que vai significar essa requalificação da Fortaleza anunciada pela ministra. Significa isso demolir o que deve ser demolido, refazer o que deve ser refeito, procurar o que está escondido e acautelar o que se vê à vista desarmada? Significa isso abrir de novo uma discussão pública serena e crítica sobre o dossier de Sagres, no que tem de património e de simbólica acumulada desde insondável antiguidade? Requalificar o quê, como, para quê e com quem? São perguntas que ficam no ar, mas só o facto de as perguntas voltarem a ser feitas dá mérito à ministra – discutir Sagres e tentar decifrar os muitos enigmas do Promontório é deveras um imperativo que Isabel Pires de Lima actualiza, a nosso ver com justificada nobreza, na agenda da política de Cultura.
É claro que, à partida, deveria ser elaborado um livro branco sobre o Promontório Sacro sem lendas, recuperando-se, entre o mais, todo o trabalho da comissão liderada por Romero de Magalhães, a propósito da gesta gorada da candidatura a património mundial. Embora com perdas irreparáveis, há tempo para recolocar a dignidade em Sagres. Ironiza Nuno Saraiva que «Pires de Lima bem podia ter como cognome Isabel, a ambiciosa». Se a ambição da ministra for a de retirar Sagres da lista de enxertos, então que se reconheça o legítimo direito ao cognome, pois há muito a requalificar politicamente no Algarve da Cultura ou na Cultura do Algarve, como se queira.
Carlos Albino
Flagrante falta de espaço: Para se falar da
magnífica obra arquitectónica de Gonçalo Vargas, na ilha da Deserta/Barreta, 24 páginas seriam poucas mas duas linhas bastam para chamar a atenção.
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