18 Janeiro 2007
Muito se riu Sousa Cintra quando me ouviu dizer a Mendes Bota que estava perdoado de todos os pecados pela sua iniciativa de propor ao Presidente da Assembleia da República o Concerto do Ano Novo com a Orquestra do Algarve. E o caso não era para menos. A Orquestra do Algarve surpreendeu quem, na Sala do Senado, nada percebesse de música ou desta tudo perceba ou julgue perceber. E surpreendeu pelo programa, pela execução e, sobretudo, pela dignidade, discrição e seriedade artística (sim, porque na Arte a seriedade é fundamental). Diga-se, sem qualquer favor, que as Quatro Estações do jovem compositor Cristóvão Silva , em estreia absoluta, foi uma dádiva caída do céu.
Mais se diga que o clarinete de Fausto Corneo e este mesmo que deixa em dúvida se é uma entrega total ou se é uma imolação sacrificial ao instrumento, fascinou e encheu o Senado de humanidade – não por Weber, mas por ele, Fausto Corneo. E na sinfonia N.º 2 de Schubert, não foi só a Orquestra, foi com esta ou por ela, sem dúvida o maestro Cesário Costa que se revelou em força, em sensibilidade e em vivência, naquele rastro indelével que Álvaro Cassuto construiu a partir do zero. Como é que Mendes Bota não haveria de ficar ali perdoado de todos os seus pecados?
Obrigado, Orquestra do Algarve, porque mostraste o teu valor e forçaste-me a dizer a Mota Amaral que «os Açores têm a autonomia que o Algarve não tem mas não têm Orquestra», ao que ele, risonho, respondeu - «Lá chegaremos!» com réplica minha «Também lá chegaremos à autonomia, se os políticos algarvios solfejarem melhor...»
Moral da história: Mendes Bota, desta vez, solfejou bem. Que é o que tem faltado a Macário, na matéria musical...
Carlos Albino
Flagrante contraste: O que o Ministro António Costa diz (ou gosta que digam por ele) e a situação arrepiante dos meios, esquema e condições da segurança no Algarve.
Sem comentários:
Enviar um comentário