Para nada serviram reparos e observações feitas com enorme cortesia – Macário levou até ao fim a sua ideia de um hino com letra saída de um concurso público e música de encomenda, o que não está em causa no que politicamente importa. O que está em causa é, mais uma vez, começar-se a obra pelo telhado – um hino, mesmo que a letra seja mais genial do que o samba numa nota só, e, glosando o outro, esteja a cantoria para a consciência colectiva assim como a música clássica está para a música militar, um hino não gera símbolos, ele tem que ser antes de tudo um símbolo, o símbolo, tem que possuir uma carga simbólica que não se obtém por decreto, muito menos por concurso público e jamais por teimosia política. Por outras palavras, é o símbolo que gera o hino e não o contrário, mas Macário, à falta de um discurso político galvanizador, distanciado e sobretudo sábio, insistiu, e, quanto a isto, Apolinário tem toda a razão ao classificar a iniciativa do hino como uma acção «forçada» e «inconsequente». E disse pouco, porque a iniciativa pisa o risco do provincianismo e do ridículo. Pisa o risco, não – um hino do Algarve, tal como Algarve está e é, sem alicerces de Região e sem pedra angular que legitime alguma autonomia, é uma manifestação de ridículo provincianismo. Claro que todo o provincianismo é inofensivo, mas torna-se ridículo quando insiste em começar a obra pelo telhado. Para brincadeira, bastou o MIA, que até teve piada.
Carlos Albino
Flagrante contraste: Tanta e tão rica inteligência
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