12 Outubro 2006
O cidadão comum do Algarve, tão bem ou talvez melhor do que no resto do País, compreendeu o alcance e a oportunidade do discurso de Cavaco Silva no 5 de Outubro, e que foi um verdadeiro libelo contra a corrupção. Esta, como toda a gente sabe e porque resulta da própria definição de corrupção, não tem número público de telefone, não tem endereço postal acessível, não tem bilhete de identidade – a eficaz e certeira corrupção, a grande e a pequena, anda e age às escondidas, mexe-se por debaixo das secretárias, tem a cara da ronha, as mãos do manhoso e os olhos do falso santinho que por arte (bem paga a outros artistas) passa por entre as lacunas e omissões da lei.
Claro que ficou na mente do cidadão comum do Algarve a mensagem endereçada pelo Presidente da República a destinatários certos, ao reiterar que «é necessário chamar a atenção, de uma forma particularmente incisiva, para as especiais responsabilidades que todos os autarcas detêm nesta batalha em prol da restauração da confiança dos portugueses nas suas instituições». Mais: «para que as instâncias de controlo persigam os prevaricadores de uma forma célere e eficaz, é necessário que o combate à corrupção seja assumido como um esforço a que todos são chamados, nomeadamente pelo sistema da justiça, cuja dignidade e credibilidade devem ser reforçadas perante os Portugueses».
Tenho-me por insuspeito para afirmar que Cavaco sabe do que está a falar e para quem está a falar. Pela segunda vez na História, um Presidente algarvio põe o dedo na maior ferida do País, independentemente dos partidos, doa ao partido que doer e invocadamente para salvaguarda da ética republicana. Só que há agora Europa, não se pode calar agora o mundo da comunicação como outrora se podia fazer calar, e o apelo é à Justiça e não às tropas. Mas sobretudo há Europa e limites para não ter vergonha na cara, por isso.
Carlos Albino
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Flagrante contraste: O “jornalista” assessor e o “ assessor” jornalista.
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