quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

SMS 144. «Discurso Algarve» praticamente nulo

9 Fevereiro 2006

Naturalmente que não podemos estar à espera de um decreto para que haja um «discurso Algarve» ou se ouça, mesmo ao longe, algum Algarve político no discurso político. Pela certa, esse decreto jamais virá de Lisboa. Não haverá decreto nesse sentido, nem esse discurso pode ser imposto entre nós, pela vontade de uns sobre a vontade dos outros. Resta-nos a constatação: politicamente o «discurso Algarve» é nulo. E porquê? Primeiramente, as iniciativas, poucas que sejam, visando a regionalização, pouca que esta também seja, tais iniciativas não têm consistência política e não ganharam a opinião pública algarvia que, de resto, cada vez existe menos, tão dividida e retalhada tem vindo a estar em função das autarquias cada vez mais fechadas sobre si e dentro de si, e em função de uma comunicação social que anda entre a sobrevivência e meia dúzia de ávidas considerações pessoais pois nada há a esperar da comunicação social de raiz administrativa (a pública ou, seja como for, a dependente do Estado, obviamente). Não há «discurso Algarve» - a Junta Metropolitana não assume nem deixam que ela assuma, a associação de municípios tem a unidade própria dos casais desavindos que em comum mantêm apenas a discussão pelo que recusam ao mesmo tempo a separação para que a discussão se prolongue como a única coisa que têm em comum, e, além disto, sobressaindo como causa também castrante de um discurso político próprio, acresce o jogo de manutenção ou disputa fratricida dos empregos políticos, supostamente bem pagos e que dependem meramente das políticas locais que, como se sabe, não brilham pelo escrutínio – muitas empresas tuteladas pelos municípios são exemplo desta falta de crivo ou de avaliação, responsáveis que são pelo aparecimento de uma nova classe de funcionários apolíticos, paradoxalmente os filhos mais legítimos ou legittimados da política. Ninguém, há escassos anos atrás, pensaria que o Algarve chegaria a 2006 sem lideranças (líder e alternativas a líder), sem uma ideia política discutida na avenida larga da crítica e, sobretudo, sem discurso. Ao Algarve chamam-lhe região mas não é, deram-lhe o título de metrópole mas não cheira a nada. Um caranguejo não pode passar por sapateira.

Carlos Albino

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