quarta-feira, 10 de novembro de 2004

SMS 79. Antígona para cabeça de lista

11 Novembro 2004

Slogan da campanha. Grande noite a que tive em Faro, no Teatro Lethes. Descontados alguns pormenores por certo corrigíveis, a Antígona encenada por Luís Vicente tem o meu voto: escolho-a para cabeça de lista. Em boa hora, o grupo de teatro ACTA que, para fazer isso mesmo – Teatro –, tem sido um grupo de heróis lutando contra a falta de meios, a falta de instalações e a falta de apoios firmes e decididos (têm-se visto gregos…), propõe aos Algarvios este monumento do pensamento político, construído por Sófocles há 26 séculos mas porque é mito – um dos mitos mais inquietantes que a Humanidade já produziu até hoje – está actual. A discussão entre Creonte e o seu filho Hémon é um diamante de arte política que apenas o teatro pode encastoar precisamente no ouro do mito. «Haverá muralha que proteja a cidade do perigo que dentro dela se engendra?» é a pergunta que o Corifeu dirige a Creonte mas que a Antígona, quer se candidate contra os Crente locais em Olhão, Loulé, Portimão, Silves ou São Brás e em Vila do Bispo, pode converter em slogan da sua campanha, mas que também pode usar com eficácia caso concorra em Faro, Albufeira, Tavira ou Lagos e mesmo em Aljezur ou ainda em Alcoutim, por aí fora, onde também não faltam Creontes mais ou menos disfarçados. Vejam a peça, vejam como a aparentemente frágil Joana Sá se agiganta no papel e assume a denúncia da morte que se pratica onde a morte não se vê – foi o que lhe disse no final da peça, a seco. E aplaudam Luís Vicente que, em Faro, está para o Teatro como o maestro Álvaro Cassuto está para a Música. Oxalá que os deixem fazer escola, gerar excelência, fomentar paixão. Gostaria de ver filas enormes de gente a comprar bilhetes para a Antígona, para indagar com inquietação a diferença entre um crime santo e uma piedade ímpia – que é o que está em questão na peça de Sófocles.

Carlos Albino

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