Realismo. Faro não tem já condições para durante o ano de 2005 ser uma Capital Nacional da Cultura, tal como inicialmente o projecto foi delineado e politicamente decidido, após a experiência de Coimbra. A avaliar pelo que veio a lume, o novo presidente da Comissão Organizadora, Rosa Mendes, não tem nada nas mãos com fôlego, com princípio, meio e fim – pelas suas palavras, não tem alinhamento. E do anterior presidente, António Lamas, não se sabe o que ficou feito em cinco meses, tempo que já era pouco para uma cidade que, contrariamente a Coimbra, pouco tem ou nada mesmo tem, não por culpa própria mas pelo desprezo secular que o poder central tem soberanamente destinado a todo o Algarve – aliás, com o que, por exemplo, fez e continua a fazer em Sagres apenas tem anavalhado a Cultura. É verdade que a ministra Maria João Bustorff anunciou em Setembro passado que a programação de Faro irá ser apresentada no Carnaval de 2005 e que os «acontecimentos» começarão na Páscoa incidindo em cheio no Verão… Mas para comparar, também é verdade que Coimbra como «capital da cultura» em 2003 se apresentou logo em Outubro de 2002. E é Coimbra! Haja bom senso, decoro e elevação de espírito – Faro deveria desistir do projecto de Capital, substituindo-o com realismo por coisa mais adequada, com designação mais abonatória e à escala – uma Festa da Cultura, o que já não seria mau, para não dizer engenhoso. Rosa Mendes pode obviamente organizar uma boa festa, mas não tem condições para organizar uma capital cultural do País. Com realismo, Rosa Mendes poderá fazer apenas uma boa festa cultural.
Sim, é humilhante. Porque Faro, como Capital Nacional da Cultura acabou. Por dois motivos. Em primeiro lugar porque não conseguiu congregar os espíritos e convocar os pesos-pesados da Cultura Nacional implicados de alguma forma com o Algarve e com a meridionalidade. E depois porque o mundo da Cultura a sério quando desconfia que as misérias de organização se apelintram na Política e nos interesses ou jogos da Política, por regra não querem casamentos com o Espectáculo artificialmente imposto ou com uma agenda salvadora de espectáculos que é o recurso da cultura off shore. E essa história de remeter Faro para os rápidos meses de Verão, para a animação turística e para inglês ver, é humilhante. Faro e o Algarve mereciam, merecem e merecerão mais. Sabemos como Faro e o Algarve poderiam afirmar-se culturalmente e agigantar-se sem favores e com excelência. Assim, não. É humilhante admitir-se que o Ano Cultural de Faro tenha apenas dois meses e meio, e que, pelos vistos, face à escassez de indígenas mesmo esses dois meses e meio tenham que ser pensados em função do «mercado turístico», da «animação turística» e das camas. Naturalmente que o Turismo deveria ser uma componente da Capital Nacional da Cultura e não uma finalidade, porque o Turismo não é um colégio, é um recreio onde qualquer brincadeira tem que dar lucro. Que haja bom senso em Faro e arredores. No ridículo já se caiu ao confundir-se espavento com Cultura. Se tivessem feito a Coimbra o que fizeram e fazem a Faro, tenho a certeza que aquela gente teria a coragem de dizer, alto e bom som, o que em Faro cala e consente. É demais!
Rectificação: Na SMS da semana passada, não foi lapso que é sempre a desculpa de mau pagador, mas um engano – trocámos o nome do maestro Armando Tavares Belo pelo do maestro Ivo Cruz. Claro que era mesmo Tavares Belo! Que saudades dele temos.
Carlos Albino
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