Ocorreu-me, há dias, pensar na sorte de
Toledo, antiga capital de Castela a par de Saragoça, capital de Aragão,
resultando desta bicefalia a emergência de Valladolid como capital antes de
Sevilha, até que Madrid capital ficou. Os de Toledo assistiram a esses saltos
da corte espanhola e, conformados, aceitavam e diziam no século XVI que a sua
cidade era “ um lugar com um passado ilustre, um próspero presente e um futuro
incerto"...
Salvas as devidas proporções, o Algarve
está nessas condições de um passado ilustre (embora tenha perdido 85 por cento
da sua memória), um próspero presente (embora 65 por cento não esteja nas suas
mãos, 20 por cento nas mãos de filipes e 15 por cento ao deus dará das disputas
de hegemonias locais que se anulam).
O Algarve parece ter essa sorte
traçada. Vê as cortes andarem de um lado para o outro, e conforma-se com o
passado ilustre. Assiste ao despejo de números redondos e convence-se de que o
presente é próspero. Mas do que fica do nomadismo das cortes e do despejo dos
números, é rigorosamente um futuro incerto. Incerto para o Algarve como
Algarve, do Algarve como cidade imensa que é mas que filipes, esquecidos, e
gestores do acaso apenas vêem como somatório de aldeamentos, cada qual até se esgotar,
valendo cada vez menos nas trocas sucessivas.
Neste cenário, do qual está ausente
escrutínio sério, objetivo e rigoroso, mas entulhado de promessas, descrições
de projetos ornados de linguagem técnica e sugestões políticas, de planos e
siglas que apontam geralmente para um século de ouro, é evidente que cada vez
mais há mais pobres, há mais precariedade, há mais alheamento da população,
deixando porta aberta aos profissionais da caridade que assim cortejam o Estado
onde o défice de Algarve é também cada vez mais notório, com os de Toledo
igualmente cada vez mais conformados e com temor.
Tenho observado que todos são
“algarvios” até ao momento em que tomam as rédeas do poder local exacerbado, e
que o “bom político” é o que nesse localismo que não leva a lado nenhum
consegue ainda assim pintar a manta. Claro que há exceções e até boas exceções.
Mas a regra é a de Toledo: futuro incerto.
Substituiu-se a voz do Algarve pela voz
da corte, e paradoxalmente nunca o centralismo foi tão forte, o que não é um
mal em si, convenhamos, apenas é um mal quando se torna desdenhoso e implanta o
pior do centralismo, imitando-o à escala.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante acompanhamento: Para os chamados Incentivos do Estado aos Meios de Comunicação Social Regionais e Locais (prorrogado o prazo das candidaturas sem que, publica e claramente, se indique até quando e para quando) foi nomeada uma “comissão de acompanhamento”. Para a indicação de representantes, não se discute os critérios da Associação Portuguesa de Imprensa, nem os da inclusão confessional da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã. Mas o que é estranho é que, pela Associação Portuguesa de Radiodifusão, para coisa do Algarve e para o Algarve, tenha sido designado um elemento da rádio Diana de Évora… Será que a Total FM, a Solar, a RUA, etc., alguma rádio algarvia, vai ser nomeada para o Alentejo?
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