A verdade é que o Algarve é a região do País onde o desemprego mais subiu. E não se viu por aí grande preocupação pelas causas e pelos efeitos. A verdade é que há fome e ou se oculta ou se disfarça. E a verdade também é que, em contraste, para muitos o Algarve é uma região de enriquecimento fácil à custa de expedientes. Faltam médicos, mas a coisa está discretamente montada para impedir a vinda dos médicos que queiram vir para cá, para proteção de pequenos reinos e reinados. Falem os advogados e digam se é verdade ou não o chamado dinheiro por fora, sobretudo na imobiliária. Falem os arquitetos, os engenheiros, etc., e digam se é verdade ou não que a transparência, os jogos de influência e de interesses moram numa travessa. Falem os autarcas e digam se é verdade ou não que a generalidade dos funcionários está proletarizada, fazendo o estritamente necessário ou menos que isso, altamente preparados para lidar com a burocracia cada vez mais asfixiante. Falem os professores e digam se é verdade ou não que a maioria está desinserida da sociedade, o mesmo acontecendo com juízes, magistrados.
Não há região, a regionalização recuou vinte anos e a
preparação séria para isso é uma cópia disforme dos valores que a
regionalização supõe. Não há participação porque também os potenciais
participantes esbarram com os cenários montados, pré-determinados e
pré-moldados. A representação política está nas lonas e a crise do sistema
aparece por todos os lados, com meia-dúzia a falar em nome de todos e,
paradoxalmente, em nome da “identidade” do Algarve.
E começou já um pouco por todo o lado a corrida para as próximas
autárquicas, as listas para as legislativas estão a ser geridas como os deuses
gerem os seus segredos, o populismo anda por aí na militância de gente que
parece séria e que sobrevive à custa de uma sociedade que não fala em voz alta
porque não tem as bases do anonimato social nem pode ter pela diminuta base
demográfica, e à custa também de uma sociedade que não tem comunicação nem
local e muito menos regional, coisas não só dispensáveis como até
inconvenientes.
Como é que esta gente se há-de preocupar com o
desemprego gritante, com os desvalidos mais que muitos, com os que passam fome
geralmente pela calada, com os que os que sofrem e morrem por uma saúde pública
em derrocada e uma saúde privada sem controle, sem escrutínio? O caso que aqui
se referiu por alto na semana passada, é verdade: uma pequena intervenção
cirúrgica num olho custou 2000 euros no Algarve e a mesma intervenção cirúrgica
no outro olho custou 50 euros na Alemanha… Isto diz tudo: há um algarvio com um
olho algarvio de 2000 euros e o outro olho alemão de 50 euros. Tristes dias e
mal de quem expõe o seu estado alma em voz alta.
Carlos Albino
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Flagrante pergunta: Já se pergunta, à falta de melhor dúvida, se “o meu coração é árabe”. E os rins, a bexiga, a vesícula, etc., não serão também árabes? Ficam de fora? Triste cóltura.
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