25 Setembro 2003
Sentimos todos que o debate, a dinâmica e até algum entusiasmo sólido que chegou a existir à volta da criação da Região Administrativa do Algarve, tudo isso caiu. E caiu porquê? Porque os entusiastas de várias orientações que monopolizaram entre si o debate, a dinâmica e até algum entusiasmo, todos eles ou a maior parte deles, afinal, apenas estariam à espera da Lei e dos decretos-lei... Como os resultados do referendo nacional inviabilizaram a decisão de Estado, a ideia da Região caiu – politicamente, faça-se a precisão. É verdade que alguns responsáveis partidários (não só dirigentes e eleitos, mas também gente sem poder mas que quer dar nas vistas) volta e meia falam dessa coisa da Região, mas vê-se-lhes a desmotivação pela evidente falta de perspectiva da lei e do decreto. Mas também é verdade que os argumentos não ultrapassam, em substância, o nível corriqueiro do «regionalismo» que, desculpem a paráfrase mas dá jeito, é a doença infantil do provincianismo tal como muito do «folclore popular» é apenas e só cultura contra o Povo. Pensamos, todavia, que se algum dia se conseguir no Algarve, recolocar o debate, a dinâmica e algum entusiasmo num nível superior da Política, ou seja das Ideias, então poderá começar-se a sentir Região, independentemente da lei e dos decretos. E não vejo outro caminho que não seja, para já, a formação de um Fórum amplo e abrangente, integrando representantes de partidos, instituições independentes mas credíveis (como Universidade e institutos superiores), personalidades de referência dos mais diversos quadrantes, organizações empresariais e sindicais, enfim o Algarve tanto quanto possível em peso. Não vamos perder de vista a questão. Há batalhas que vale a pena travar, mas sem a doença infantil do provincianismo que é uma «lei» que o Algarve não merece.
Carlos Albino
quinta-feira, 25 de setembro de 2003
quinta-feira, 18 de setembro de 2003
SMS 19 - O que Deus e um Poeta criam em Quarteira
18 de Setembro 2003
E ali estávamos, às duas da madrugada, num terraço de quinto andar, com o enorme círculo de Mar a fazer razia à frente dos olhos. A fronteira desse Mar com a Terra era o longo corrupio de gente cujo vai-vém era inegável prova de paz. E quem estava no terraço? Estava Serras Gago, conselheiro da Representação Portuguesa junto da OCDE, a dissertar sobre o rumo do País e o futuro do Algarve, tirando o melhor da sua reconhecida experiência de sociólogo. Estava Manuela Júdice, a grande inventora da Casa Fernando Pessoa a quem João Soares tirou indecentemente o tapete. Estava Lídia Jorge, a testemunha sábia de todos os meus momentos e de todas as minhas inquietações. E estava o Poeta Nuno Júdice, de olhos perscrutantemente incrustados num corpo tão quieto, tão quieto como um monge budista jamais conseguiu e jamais conseguirá. Um corpo tal como Mar em frente. Todavia, notei uma enorme, secreta e julgo que irreprimível movimentação nesse corpo, tal como no Mar a fazer razia. E desafiei-o: «Nuno, esse poema que por aí anda, por mais breve ou longo que seja, é para os leitores das SMS do Jornal do Algarve». E como que a não querer interromper o secreto discurso, ele apenas murmurou um curto «Sim». Uns poucos dias depois, recebi sete linhas que são a síntese daquela sensação esmagadora de Belo e que certamente levou Deus, ao sétimo dia, à decisão de criar Loulé em Quarteira e o Algarve no oitavo. Leiam:
LUAR EM QUARTEIRA
Roubo, do céu onde a noite
a fixou, a prumo sobre
o mar, o rebordo vermelho da lua,
nem crescente nem minguante;
e um gemido de maré
cola-se ao buraco branco
que ficou no céu.
10-8-2003
Nuno Júdice
Se eu fosse autarca, mandaria gravar as sete linhas numa placa de pedra a colocar junto daquele Mar.
Carlos Albino
E ali estávamos, às duas da madrugada, num terraço de quinto andar, com o enorme círculo de Mar a fazer razia à frente dos olhos. A fronteira desse Mar com a Terra era o longo corrupio de gente cujo vai-vém era inegável prova de paz. E quem estava no terraço? Estava Serras Gago, conselheiro da Representação Portuguesa junto da OCDE, a dissertar sobre o rumo do País e o futuro do Algarve, tirando o melhor da sua reconhecida experiência de sociólogo. Estava Manuela Júdice, a grande inventora da Casa Fernando Pessoa a quem João Soares tirou indecentemente o tapete. Estava Lídia Jorge, a testemunha sábia de todos os meus momentos e de todas as minhas inquietações. E estava o Poeta Nuno Júdice, de olhos perscrutantemente incrustados num corpo tão quieto, tão quieto como um monge budista jamais conseguiu e jamais conseguirá. Um corpo tal como Mar em frente. Todavia, notei uma enorme, secreta e julgo que irreprimível movimentação nesse corpo, tal como no Mar a fazer razia. E desafiei-o: «Nuno, esse poema que por aí anda, por mais breve ou longo que seja, é para os leitores das SMS do Jornal do Algarve». E como que a não querer interromper o secreto discurso, ele apenas murmurou um curto «Sim». Uns poucos dias depois, recebi sete linhas que são a síntese daquela sensação esmagadora de Belo e que certamente levou Deus, ao sétimo dia, à decisão de criar Loulé em Quarteira e o Algarve no oitavo. Leiam:
LUAR EM QUARTEIRA
Roubo, do céu onde a noite
a fixou, a prumo sobre
o mar, o rebordo vermelho da lua,
nem crescente nem minguante;
e um gemido de maré
cola-se ao buraco branco
que ficou no céu.
10-8-2003
Nuno Júdice
Se eu fosse autarca, mandaria gravar as sete linhas numa placa de pedra a colocar junto daquele Mar.
Carlos Albino
sexta-feira, 12 de setembro de 2003
SMS 18 - Subsídios já p’ró Poeta
11 de Setembro 2003
Foi descoberto um homem que, pelo diz e escreve, pode ser considerado já o maior Poeta Popular vivo do Algarve, supondo-se que também tenha lugar assegurado entre os mortos. Uma quadra inédita que nos chega às mãos é prova suficiente da abençoada genialidade:
Vim ao mundo tirado a ferros
Sem que dissesse ai nem ui!
Minha mãe é que ficou aos berros
- Porque pai de mim próprio fui.
A rima de «ferros» com «berros» e de «ui» com «fui», além do uso do travessão no quarto verso, são fórmulas tidas como definitivamente inovadoras da Literatura Portuguesa. Assim sendo, Silves deve dar já 24 mil euros para a publicação do primeiro livro do Poeta; Loulé deve dar e quanto antes 30 mil euros para a investigação, naturalmente universitária, sobre o manuscrito ainda inédito; Faro, obviamente em parceria com a RTA e Parque da Ria Formosa, tem a obrigação de conceder 100 mil euros para o primeiro álbum fotobiográfico do poeta popular. Monchique deve-lhe fazer alguma homenagem (60 mil euros - e já! - da Delegação do Ministério da Cultura para foguetes e sessão) e que Portimão, Lagos e Lagoa puxem pela imaginação porque génios como o do nosso Poeta devem ser subsidiados sem hesitação e generosamente, até porque o Tribunal de Contas não presta atenção a gastos deste género... Entenderam como se pode ganhar 214 mil euros de uma penada?
Carlos Albino
Foi descoberto um homem que, pelo diz e escreve, pode ser considerado já o maior Poeta Popular vivo do Algarve, supondo-se que também tenha lugar assegurado entre os mortos. Uma quadra inédita que nos chega às mãos é prova suficiente da abençoada genialidade:
Vim ao mundo tirado a ferros
Sem que dissesse ai nem ui!
Minha mãe é que ficou aos berros
- Porque pai de mim próprio fui.
A rima de «ferros» com «berros» e de «ui» com «fui», além do uso do travessão no quarto verso, são fórmulas tidas como definitivamente inovadoras da Literatura Portuguesa. Assim sendo, Silves deve dar já 24 mil euros para a publicação do primeiro livro do Poeta; Loulé deve dar e quanto antes 30 mil euros para a investigação, naturalmente universitária, sobre o manuscrito ainda inédito; Faro, obviamente em parceria com a RTA e Parque da Ria Formosa, tem a obrigação de conceder 100 mil euros para o primeiro álbum fotobiográfico do poeta popular. Monchique deve-lhe fazer alguma homenagem (60 mil euros - e já! - da Delegação do Ministério da Cultura para foguetes e sessão) e que Portimão, Lagos e Lagoa puxem pela imaginação porque génios como o do nosso Poeta devem ser subsidiados sem hesitação e generosamente, até porque o Tribunal de Contas não presta atenção a gastos deste género... Entenderam como se pode ganhar 214 mil euros de uma penada?
Carlos Albino
quinta-feira, 4 de setembro de 2003
SMS 17 - Grande surpresa, meu Deus!
4 Setembro 2003
Passaram dois séculos de «cartas ao director», em que alguns dos mais afoitos e privilegiados, enfim, lá iam conseguindo ver impresso, tarde e más horas, um resuminho de reflexão, de protesto e de alerta ou, mais extensamente, as louvaminhas segundo a sabida conveniência das sociedades locais. A internet acabou com as restrições e as «cartas» começam a ser outras, tudo podendo ser divulgado num ápice. Basta querer e conhecer. Quase a única limitação será, hoje, a de não querer e a de não conhecer. E é com grande surpresa, meu Deus!, que vejo surgir blogs algarvios, por regra pautados pela dignidade, pela elevação e pela qualidade. Vejam como www.jaquinzinhos.blogspot.com dá cartas; abram www.notasoltas.blogspot.com; sintam como tempo não é perdido em www.umpoucomaisdesul.blogspot.com e, se fazem favor, vejam como o humor pode ser cortante e sadio em www.macjete.blogspot.com. Claro que há diferença entre os exercícios de www.1000euma.blogspot.com e as boas tiradas de www.alcagoita.blogspot.com; que o caminho de www.ambliguidades.blogspot.com é diferente do de www.hemogoblina.blogspot.com tal como as há entre www.diariodamarilu.blogspot.com e www.lampadamagica.blogspot.com. Mas há mais, todos a reforçar uma «ideia» de Algarve: www.a-formiga-de-langton.blogspot.com, www.blogal.blogspot.com; www.baldepeixe.blogspot.com; www.repensar-a-politica.blogspot.com; www.almariado.blogspot.com; www.algarveglobal.blogspot.com; www.deslizarnosonho.blogspot.com e www.vialgarve.blogspot.com. Antecipadas desculpas se houve omissão de algum blog algarvio, mas serve a mancha deste texto para ajudar a concluir que se está já num mundo novo. Oxalá, os cafés das nossas cidades e vilas começem a substituir a enfadonha televisão pelo computador. E se cada um dos 400 mil algarvios tiver um blog – não haja medo disso! - haverá menos gritaria e mais Algarve. Então, honra aos pioneiros.
Carlos Albino
Passaram dois séculos de «cartas ao director», em que alguns dos mais afoitos e privilegiados, enfim, lá iam conseguindo ver impresso, tarde e más horas, um resuminho de reflexão, de protesto e de alerta ou, mais extensamente, as louvaminhas segundo a sabida conveniência das sociedades locais. A internet acabou com as restrições e as «cartas» começam a ser outras, tudo podendo ser divulgado num ápice. Basta querer e conhecer. Quase a única limitação será, hoje, a de não querer e a de não conhecer. E é com grande surpresa, meu Deus!, que vejo surgir blogs algarvios, por regra pautados pela dignidade, pela elevação e pela qualidade. Vejam como www.jaquinzinhos.blogspot.com dá cartas; abram www.notasoltas.blogspot.com; sintam como tempo não é perdido em www.umpoucomaisdesul.blogspot.com e, se fazem favor, vejam como o humor pode ser cortante e sadio em www.macjete.blogspot.com. Claro que há diferença entre os exercícios de www.1000euma.blogspot.com e as boas tiradas de www.alcagoita.blogspot.com; que o caminho de www.ambliguidades.blogspot.com é diferente do de www.hemogoblina.blogspot.com tal como as há entre www.diariodamarilu.blogspot.com e www.lampadamagica.blogspot.com. Mas há mais, todos a reforçar uma «ideia» de Algarve: www.a-formiga-de-langton.blogspot.com, www.blogal.blogspot.com; www.baldepeixe.blogspot.com; www.repensar-a-politica.blogspot.com; www.almariado.blogspot.com; www.algarveglobal.blogspot.com; www.deslizarnosonho.blogspot.com e www.vialgarve.blogspot.com. Antecipadas desculpas se houve omissão de algum blog algarvio, mas serve a mancha deste texto para ajudar a concluir que se está já num mundo novo. Oxalá, os cafés das nossas cidades e vilas começem a substituir a enfadonha televisão pelo computador. E se cada um dos 400 mil algarvios tiver um blog – não haja medo disso! - haverá menos gritaria e mais Algarve. Então, honra aos pioneiros.
Carlos Albino
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