quinta-feira, 2 de março de 2017

SMS 705. O Papa Francisco

2 março 2017

Acabados que estão os carnavais, conhecidos os Óscares, já mais ou menos feitas as listas para as autárquicas, e sabendo-se que problemas e escândalos nacionais entram na rota tradicional do empate nebuloso, parece que há uma aberta para se reconhecer, neste mundo, uma autoridade moral de que tanto está carenciado: o Papa Francisco. Uma das suas últimas afirmações que abanou muitas consciências, foi precisamente a de que “mais vale ser ateu do que católico hipócrita”. Naturalmente que junto daqueles católicos que pensam não haver católicos hipócritas, apenas porque julgam que o ser-se católico é uma vacina contra a hipocrisia, a frase do Papa caiu mal. Mas porque a mesma frase inversa, também é válida para os ateus, porquanto não se pode deixar de admitir que “mais vale ser católico do que ateu hipócrita”, essa frase também caiu mal junto de alguns ateus e mesmo agnósticos que pensam que o seu agnosticismo e o seu ateísmo são idênticas vacinas contra a trapalhice ou que os tornam imunes na subversão ou perversão dos valores do humanismo. Independentemente do somatório de uns com outros, o certo é que o Papa fez acordar católicos, ateus e agnósticos com a consciência de que o cultivo dos valores que viabilizam a Humanidade para o progresso em paz e para a paz em progresso, na busca do consenso e na pauta da tolerância, que tal cultivo se torna impossível com a hipocrisia e na hipocrisia.

Não é preciso dar muitas voltas para se definir hipocrisia, os dicionários, nisso, são unânimes: é o fingir sentimentos, crenças e virtudes, que na realidade não se possui. O termo começou, do latim e do grego, a significar a representação dos atores que, em teatro, usavam máscaras de acordo com o papel que representavam numa peça, e, hoje, em todas as línguas, para os atores com que nos cruzamos no dia-a-dia e que muitas vezes o influenciam e determinam, continua a ser isso: o hipócrita é alguém que oculta a realidade através de uma máscara de aparência, finge comportamentos, falseia possuir boas qualidades para ocultar defeitos de carácter e de personalidade, e por isso o hipócrita é conhecido como uma pessoa dissimulada. O hipócrita invoca valores que não segue, e, usando a máscara, engana e julga nunca se enganar.

Que me recorde, assim a falar tão claro, apenas notei a voz de João XXIII que por isso entrou na reduzida galeria das autoridades morais do mundo. Agora, temos nessa mesma galeria, com coragem redobrada, o Papa Francisco. Crentes e não-crentes mas que estejam alinhados na defesa de um Humanismo que tenha o fio condutor da tolerância, do consenso, da procura da verdade sem concessões para o livre arbítrio, para a discriminação e para o enriquecimento sem justa causa, todos esses que rejeitam usar máscaras nas relações humanas em todos os campos – da Política à Cultura, da Economia e Finanças à Ciência, todos esses que, juntos, são muito mais que os hipócritas, estão naturalmente com o Papa Francisco, e reconhecem a sua autoridade moral ao abdicar das vestes de príncipe.

Sabe-se que, nesse exercício de abdicação das vestes douradas, o Papa Francisco gosta das periferias, de se deslocar às periferias, de sentir de perto as periferias sem máscaras. Sendo o Algarve periferia do País, periferia da Península e vizinho da periferia norte-africana, seria sonhar alto pensar que o Papa Francisco, algum dia, venha ao Algarve. Mas, se pensar, venha que será bem-vindo e será recebido sem hipocrisia. Duvido que esta SMS lá chegue, mas ninguém se incomodará que divulgue.

Carlos Albino
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Flagrante drone: Lembrou-se, e bem, a Universidade do Algarve de colocar um drone a voar pelo Campus de Gambelas, para mostrar como a tecnologia já pode estar ao serviço da agricultura, num “Dia Aberto” da UALG, que atraiu dois milhares de jovens. Isto pede 365 Dias Abertos e não apenas um.

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