quinta-feira, 14 de abril de 2016

SMS 662. Correios e trapalhadas

14 abril 2016

Quando os CTT encerraram dependências a pretexto da preparação da privatização, já se suspeitava que não era a melhoria do serviço público e facilitação para as populações que estava em linha de mira mas sim um atalho para um novo banco. Na verdade, o fecho de serviços instalados em edifícios próprios e que ficaram de portas fechadas à espera de qualquer coisa não claramente anunciada, e a deslocação desses mesmos serviços para lojas particulares ou, à falta disto, para as juntas de freguesia que tiveram que assumir o ónus, tudo isso foi uma trapalhada. Como em todas as trapalhadas, fica-se à espera dos resultados e eles aí vão aparecendo.

A palavra trapalhada tem três entendimentos: ou é apenas uma confusão, mistura de coisas; ou é um enredo obscuro, enfim, coisa que não se entende; ou, pura e simplesmente, trapalhada significa embuste. Ora, quando o mais alto responsável dos CTT e principal agente da ciclópica preparação da privatização, veio a público argumentar que a transferência de serviços para lojas manifestamente desadequadas era para “ajudar a economia local”, ao mesmo tempo que envolvia as juntas de freguesia na trapalhada, ele não foi diretamente ao assunto porque o assunto era já e foi sempre o atalho que os CTT proporcionavam para um banco, coisa que não se cria de um dia para o outro, como a terra firme foi criada no dia a seguir ao da separação dos mares. E viu-se como foi: os CTT despejaram o lixo, quiseram a casa a mais limpa possível da sujeira do serviço público remetido para uns balcões improvisados e eis o banco.

Nada a opor à criação de bancos, à instalação de bancos, e à afirmação concorrencial de bancos. O que se recusa é a trapalhada que cheira a embuste.

OS CTT estão a desarticular caixas de receção, estão a substituir os serviços de proximidade por tarefas entregues a viajantes efémeros, etc.. Nas zonas rurais ou de população dispersa mas intensa, isto é particularmente lesivo e está nos antípodas do serviço público. Ir aos postos de correio está a converter-se no mais recente dos sacrifícios e para quem os pode suportar. Em muitos aspetos, o serviço público só não foi liquidado porque as juntas de freguesia passaram a acolher e a fazer aquilo para que não foram criadas.

O banco, agora chamado Banco CTT, inicia os seus dias publicitando que “nada nos move mais do que a vontade dos portugueses”, e que, “por isso, chegou a hora de fazer nascer um banco que começa do zero”.

Não é verdade que comece do zero, começa da trapalhada e da limpeza do serviço público.

Carlos Albino
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Flagrantes votos: O novo ministro da Cultura, embaixador Luís Castro Mendes, merece os nossos melhores votos de bom desempenho. Não porque o seu pai tenha sido juiz em Faro e colaborador assíduo do Jornal do Algarve; não porque o seu avô, José Rosa Teixeira, do Ameixial e com vida em Loulé, tenha sido intenso descobridor das pedras com a Escrita do Sudoeste (espólio no Museu Arqueológico de Faro); não porque se considere algarvio, por acaso nascido em Idanha-a-Nova. Nada por isso! Luís Castro Mendes é uma das figuras cimeiras da poesia contemporânea portuguesa, foi embaixador de primeira linha nas principais instituições que contam para a Cultura na Europa (UNESCO e Conselho da Europa), e acima de tudo é um homem sério a toda a prova, honesto ao lado de todas as dúvidas e culto.

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