10 Novembro 2005
Agora, já no final do mandato,
Sampaio veio ao Algarve de raspão por causa de uma «presidência aberta» sobre turismo que lhe deu para ir a quase todo o lado, do Porto Santo a Esposende, terminando tudo em Tróia naturalmente com mais uma cena de condecorações que é uma coisa que Sampaio gosta tanto fazer como João Paulo II gostava de fazer santos. No Algarve, houve um poiso na Fortaleza de Sagres, um salto a Vilamoura, uma passeata de helicóptero sobre as belas obras das falésias e foi tudo para além das palavras. E quanto a palavras, Sampaio não trouxe nenhuma novidade – repetiu um bocadinho, apenas um bocadinho do que muitos têm dito há 30 anos e que, por terem dito, foram espezinhados, humilhados e esquecidos. Portanto, Sampaio veio chorar sobre o leite derramado e conviver à portuguesa com alguns que provocaram o derrame do leite ou com outros que bem o querem derramar ainda mais.
Sampaio, nesta deslocação ao Algarve foi uma tristeza.E Sampaio foi uma tristeza porque só o Algarve justificaria, em tempo certo e que já passou, uma presidência aberta, sendo agora tudo muito tarde, mesmo de raspão, assim como quem dá uma tacada de golfe. Mas para isso, para uma «presidência aberta» a sério no Algarve, Sampaio teria que ter tido coragem que é uma coisa que se aprende em todos os desportos, incluindo o desporto da política, mas que não existe no golfe. Coragem para, em vez de ir a poente depois de Lisboa ter maltratado e adulterado Sagres de todas as formas e feitios, ir a nascente que é onde ficam Vila Real de Santo António, Castro Marim e Alcoutim e aí defender uma nova estratégia do turismo algarvio face ao desafio espanhol. Coragem para, em vez de pela décima milésima vez jantar com empresários do turismo, a maior parte dos quais nem são algarvios nem põe os pés no Algarve reinvestindo sistematicamente fora da Região o que no Algarve lucram se é que não fazem as suas operações através dos paraísos fiscais, ouvir ao longo da 125 quem da 125 vive ou ainda vive, e preconizar um «destino metropolitano» para a mesma 125. Coragem para ouvir os agricultores, as gentes das serras incendiadas, os pescadores de Quarteira e Olhão, os artesãos a quem as portas do mesmo turismo empresarial se fecham, andar pelas universidades nascidas a martelo, indagar como tantas presidências autárquicas foram uma farra, enfim,
coisas de coragem não faltariam a Sampaio em tempo oportuno, como agora coragem teve Seruca Emídio em tocar no assunto do Hospital. Mas desconfio que Sampaio já não tenha tempo para condecorar a coragem de Seruca Emídio.
Carlos Albino