Justifica-se um parêntese na prosa que a gente julga ser sempre a bem da pátria e em que tantas vezes nos enganamos. Claro que haveria muito para dizer nesta modorra de semana semana, mas há melhor para dizer. Um parêntese muito melhor.
Quem é Nuno Guerreiro? A pergunta pode parecer insólita para aqueles que conhecem este cantor desde que surgiu na cena pública portuguesa, e nunca mais se esqueceram da sua voz de timbre único, e da sua presença, ao mesmo tempo frágil e forte, terna e audaz, como se tivesse entrado nos palcos, de um mundo desconhecido. Temas que o lançaram, permitiram que fossem trauteados por muitos dos que lhe são fanáticos. Mas, passados vinte anos, ainda há quem pergunte - Quem é Nuno Guerreiro?
Quem esteve no passado fim-de-semana no Cine-Teatro Louletano, e assistiu pela primeira a um concerto dos A Ala dos Namorados, e não conhecia, sabe que Nuno Guerreiro é uma figura singular. Quem apenas voltou a ver actuar o cantor, sabe que estes anos lhe deram ganho, acrescentaram talento e capacidade de chamar a atenção de grandes plateias, apesar do tom intimista que empresta ao que canta. Quem esteve lá, ao longo desses dois concertos, ficou a saber que Nuno Guerreiro é um dos sérios, talentosos e singulares cantores da música que actua neste momento em Portugal.
Mas no final, quando Nuno Guerreiro vem ao foyer assinar papelinhos para os jovens fãs, a questão que se põe é esta - O que está a acontecer com a divulgação da música ligeira em Portugal? Que espectáculos são estes que a televisão passa, e que figuras menores são essas que promove? Que flutuação é esta que nos está a acontecer, que é possível substituir as grandes figuras da música, como é o caso de Nuno Guerreiro, acompanhado por uma grande banda, e por grandes letristas, João Monge ou José Fialho Gouveia, por roqueiros de última classe, alguns deles mal distinguindo música e guinchos?...
Felizmente que Nuno Guerreiro regressou por dois espectáculos à terra que o viu nascer. Que a sua mãe e seus amigos estavam presentes, que a festa na sala foi de uma grandeza sem medida. E felizmente que não é necessário que Nuno Guerreiro regresse às origens para ser reconhecido como um cantor singular em todos os sentidos. Mas é bom que de vez em quando venha até à sua "prima patria", para ter a certeza de que a flutuação trazida pela comunicação grotesca que tudo ataca e tudo baixa até ao nível do zero, não atinge os que o amam e lhe dão coragem.
Uma grande Voz da música e grande parêntese da excelência que justifica que a sociedade seja Sociedade com o melhor perfume da arte, da sensibilidade e do bem. Obrigado Nuno Guerreiro.
Carlos Albino
Flagrante irreflexão: Parece paradoxo mas não é – o pior dos abstencionismos é entre eleições ou fora do calendário das eleições, porque não é o poder que estraga os homens, mas, sim, estes é que estragam o poder. E a coisa começa cá por baixo, localmente. Ou seja: há o poder local e há os paradoxos locais.
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