quinta-feira, 26 de março de 2009

SMS 307. Insegurança, desemprego e crise

26 Março 2009

Em vez de assobiarem para o lado, os dirigentes políticos, não os que estão longe ou lá em cima, mas os que estão aqui e bem perto, deveriam apresentar soluções para o que mais aflige os algarvios – a insegurança, o desemprego e a crise que está a minar as pequenas empresas e obviamente o comércio. Não aquela soluções vagas e abstractas que decorrem da reza do credo da estabilidade rezado como aqueles que rezam de cor e salteado para o seu deus distraído, mas soluções concretas para os problemas concretos da concreta sociedade. Não basta a constatação e o encolher de ombros, dissertando sobre o sexo dos anjos em vez de formularem os problemas e descreverem os remédios. Quanto à segurança, aí temos uma justiça amiúde desafinada cujas decisões deixam o cidadão atónito e desmobilizam as próprias autoridades que assim cada vez mais se refugiam em balcões de expediente; quanto ao desemprego, mais grave agora que o desemprego sazonal que era a rotina a que grande parte comodamente se habituou, aí temos o jogo com estatísticas que não dá pão a ninguém e muito menos paga encargos; quanto à crise, esperemos pelo verão, mas quando os hoteleiros dizem que um isolado jogo de futebol de fim-de-semana lhes deu mais clientela que as férias de carnaval, está tudo dito em termos de prenúncio, com o comércio a sentir de forma dramática a quebra do consumo, sabendo-se do resto – obras paradas, imobiliária sem negócios sólidos à vista a gerir ofertas de desespero. É evidente que todos esperamos uma boa revoada de turistas que de alguma forma, aqui e ali, deixe algum dinheiro fresco a circular na região mas, como as coisas estão a correr, ninguém pode garantir que o final de Junho, Julho, Agosto e um pouco de Setembro sejam favas contadas.

É hora, pois, dos políticos provarem que são políticos, que são merecedores com nobreza do que a política lhes deu e que têm nas mãos argumentos que convençam os eleitores e lhes dêem esperança nas virtualidades do sistema de representação. Em tempos de relativa abundância ou de recurso ao dinheiro fácil que o poder sempre consegue arranjar, o marketing até pode fazer alguns milagres de voto. Mas num momento de crise na qual o Algarve tem a tendência histórica de se converter num dos primeiros becos do país, o marketing político equivale ao suicídio político dos que dele abusam, a não ser que a sociedade por algum paradoxo já tenha optado pela sua própria extinção o que será impensável admitir mesmo num beco.

Sempre é oportuno dizer isto pois por aí lemos e ouvimos muita dissertação sobre o sexo dos anjos que não diz nada a ninguém e com verbos de encher que não têm qualquer relação directa e útil com os problemas concretos com que a sociedade algarvia se debate, problemas esses que não têm 16 autarquias, são da região toda, da serra ao mar. Será preciso trocar isto por miúdos?

Carlos Albino

      Flagrante desleixo. Pior que o árbitro no Estádio Algarve foi o estado do relvado. Alguém a merecer cartão vermelho.

quinta-feira, 19 de março de 2009

SMS 306. Políticos e funerárias

Calcula-se porque seja, de um momento para o outro, aí temos articulistas inesperados a escrever sobre o óbvio que até confrange e colunistas supostamente convidados cujas colunas mais não são do que propaganda confrangedoramente embrulhada em celofane. Todavia, isso não seria nada de anormal se na generalidade os inesperados articulistas e os colunistas convidados não fossem políticos de carreira ou dirigentes partidários e, em função desses estatutos, ocupando cargos públicos de relevo ou desempenhando importantes funções por endosmose da política.

Claro que não se põe em causa a inquestionável liberdade de expressão, o que se estranha é que tais políticos não usem a tribuna política que por legitimidade lhes pertence e para colmatar calculados silêncios destes últimos auspiciosos anos venham agora com regularidade para os jornais, em vésperas de eleições ou talvez por causa das eleições, como que a fazerem prova de vida e a subtraírem espaço destinado para a livre crítica e para o escrutínio da actividade pública àqueles que não têm a tribuna política que os políticos deviam usar e para tal foram eleitos. É que não só subtraem espaço mas também inibem que o cidadão comum use os jornais para aquilo que os jornais servem, devendo servir inclusivamente para observatório dos próprios políticos.

Com a política passa-se agora coisa semelhante, não é igual mas apenas semelhante à que, no Algarve ou quase só no Algarve se passa com as funerárias às quais se delega divulgar quem morreu. Em vez de anúncios nos jornais locais ou regionais, as funerárias têm o péssimo hábito de colocar placards próprios colocados nas praças públicas, anunciando cada uma apenas os seus mortos (havendo guerras de placards se uma funerária usa o placard da outra), ou à falta de placards colam os prints nas placas de estradas e caminhos, havendo placas que parecem cemitérios em função dessa publicidade selvagem à margem da lei e das posturas municipais (onde existem), subtraindo publicidade legal aos jornais e inibindo a família do morto de honrar a memória deste nos veículos de comunicação comunitária.

Os políticos, sobretudo detentores de cargos públicos ou exercendo altas funções de representação para que foram eleitos, podem mas não devem fazer dos jornais os seus placards de funerária… Fica-lhes mal pois se vestem o fato escuro não é por sentimento mas porque o ramo do negócio a isso os obruga.

Carlos Albino

      Flagrantes hipóteses para mestrados: pelo que consta ainda está por fazer uma investigaçãozinha sobre política e corrupção durante o a I República no Algarve e, já agora, outra investigaçãozita sobre a corrupção apolítica durante a II Guerra Mundial também no Algarve. O resto é banda desenhada.

quinta-feira, 12 de março de 2009

SMS 305. Mudança de critérios

12 Março 2009

Até há pouco tempo, o bom autarca era apenas aquele que apresentava obra. Sem obra, a reeleição estava liminarmente arrumada. Todo o pau servia para fingir qualquer obra e alguns autarcas traídos nesse frenesim de poder chegaram a cair no ridículo de venderem dois palmos de esperteza por três votos sem inteligência. Por isso aí temos cidades e vilas cheias de mamarrachos não tanto porque não houvesse leis mas apenas porque se autorizava para «haver obra», e mesmo que tais mamarrachos nada tivessem a ver com os bicos de obra da política eles sempre foram garantindo, por esta ou aquela via, uns retornos no apoio às campanhas eleitorais – não é por acaso que alguns desses mamarrachos se situam onde antes tinham funcionado sedes partidárias graciosa ou simbolicamente cedidas, por certo com segundas intenções.

Agora, o critério do eleitor já não vai sendo tanto a obra mas o perfil, e no perfil a moral, mais precisamente a moral política. Um autarca pode ter obra na mão, até muita obra ou obra a dar com um pau, mas se aos olhos públicos se revelar sem moral política, ele não tem hoje as chances que tinha no passado recente – os critérios mudaram. É assim que um autarca que o seja e insista, ou outro que tenha sido e queira retomar, se o sábio olhar público o identificar como comandante trapaceiro, peru miliciano de represálias, devasso sorridente ou traficante de influências fardado em São Francisco descalço, esse autarca bem pode dizer que sem ele a terra não teria cinco arranha-céus ou que se não tivesse sido ele a terra teria sido riscada do mapa, bem pode dizer isso e mais, com a pose de salvador único e insubstituível, mas, desprovido da tal moral política, quanto mais diz mais perde, sobretudo na democracia local onde o engano pode durar mas não perdura muito.

Por essas e por outras, pelo menos na fase em que o país está (com a justiça na lástima e a educação à mercê de experiências de laboratório impostas por uns brincalhões) sou pela separação de eleições locais e eleições nacionais, pois de outra forma a verdade eleitoral não virá tão bem ao de cima.

As próximas eleições autárquicas vão ser sobretudo um teste de moral política – para quem está e quer continuar, para quem ousa iniciar-se e definitivamente para quem eventualmente se julgue um messias de regresso mas que sem moral política na cara não passará do frete de fazer de messias.

A honestidade não é uma questão de marketing, o eleitor já sabe e por isso mudou os critérios. Ainda bem.

Carlos Albino

      Flagrante figura triste: A dos deputados por substituição que por aí andam, como se treinar para a Fórmula 1 da política fosse apenas andar à boleia.

quinta-feira, 5 de março de 2009

SMS 304. Os números do desemprego


5 Março 2009

Os números do desemprego no Algarve são de arrepiar a espinha, os sindicatos fazem bem em reclamar medidas especiais urgentes e os que tentam tapar o sol com uma peneira fazem mal. Há que encarar a situação de frente, identificar os problemas e tentar encontrar as melhores soluções antes que a situação social se agrave para níveis incontroláveis. Mas é muito provável que o bom senso não impere pois aqueles mesmos que nunca olharam com seriedade para o emprego não é agora que terão seriedade para olhar para o desemprego.

Era de esperar que alguma coisa já se tivesse feita, estando o Algarve altamente dependente de uma actividade económica sujeita aos altos e baixos do «ambiente» internacional, cujos comandos nem estão cá e para aos quais os algarvios são um indigenato feliz com o desemprego sazonal disfarçado com uns ganchos. E mais se justificaria que alguma tivesse sido feita e não foi, porque essa mesma actividade alimenta a jusante praticamente quase tudo o que economicamente no Algarve mexe à excepção de alguns teimosos da agricultura mas também estes desprotegidos e sem estímulo, até porque o deus dará de Espanha já não é o que era.

O que se tem ouvido é meramente o discurso róseo de justificação para quem está na banda do poder, ou a reclamação desesperada ou tornada ainda mais desesperada por quem, sobretudo em época eleitoral, aproveita qualquer desalinhavo do mesmo poder. Discursos róseos e reclamações tardiamente desesperadas não auguram nada de bom sobretudo numa região do país onde visivelmente os ricos estão mais ricos e os mais pobres cada vez mais pobres, para usar a fórmula tantas vezes usada para se ganhar eleições mas rapidamente esquecida depois de contados os votos.

Carlos Albino

      Flagrante sinal dos tempos: Um pai, publicamente, para quem quisesse ouvir, diz para o filhote: «E se essa professora te tocar com um dedo diz-lhe que o teu pai lhe dará um tiro nas patas».