quinta-feira, 29 de setembro de 2011

SMS 430. Vale a pena recordar


29 setembro 2011

Não é com intenção de acerto de contas mas apenas para se aquilatar o nível a que se coloca a política no Algarve, mesmo quando a política se cruza diretamente com o futuro da região, ou pelo menos com aquele futuro que uns quantos bem intencionados e que não esperam nada da política, desejam para a região. Aí por ocasião dos calores de discussão sobre a regionalização – assunto que a crise e a troika se encarregaram de colocar na arca congeladora -  foi sugerido pelos bem intencionados que as autarquias (municípios e freguesias) abrissem mão de poderes e até questionassem a justificação da sua própria existência e aceitassem colocar parte dos poderes que têm e parte da sua própria existência nas regiões, no caso do Algarve, na Região do Algarve que continuamos falsamente a supor que existe mas que é uma coisa falsa porque nem houve amostra disso nem há sinais de que possa haver. E o que sucedeu? Sucedeu que em vez de se aceitar que há municípios e sobretudo freguesias a mais com péssimos serviços, se estimulou a criação de novos concelhos e de novas freguesias, sendo melhor que quem lá de cima andou por aí a dar “ânimo” a uns ingénuos e até suporte a gente de mão, se esconda debaixo da mesa e mude de nome para não cair agora em contradição. Na verdade, os mesmos folgazões da política que se serviram de ingénuos para, com o enganoso municipalismo reforçado e com as rebeliões fragmentárias locais que levaram à multiplicação de freguesias e a ânsias de novos concelhos para efeitos meramente imobiliários (o resto é conversa), inviabilizarem a Região e reforçarem o centralismo que foi sempre a sua bandeira, são os mesmos agora que, a pretexto da crise e da rendição sem condições à troika, anunciam com regozijo funerário a extinção de freguesias e preparam a fusão de municípios. E com isto, a Região perdeu, o centralismo sai reforçado sem apelo e sem deixar margem a grande contestação, e naturalmente que a clientela iludida pelo fogo-fátuo do municipalismo que por pouco não voltava a ser foraleiro com o regresso dos pelourinhos, essa clientela também perdeu ou vai perder. É uma questão de tempo.

Carlos Albino
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Flagrante arrepio : Arrepio mesmo com o nível de conhecimentos, de capacidade e de motivação intelectual que a generalidade dos alunos do ensino superior revela no Algarve. Como é que gente tão atrasada chegou tão longe? E como é que se permitiu que se tivessem atrasado tanto?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SMS 429. Não o convidem mais, por favor


22 setembro 2011

 Ainda estão dos ouvidos algumas palavras que Alberto João Jardim veio dizer aqui, no Algarve, convidado como estrela da regionalização, por certo com a intenção de motivar os algarvios a imitá-lo um pouco. Por aquilo que destemperadamente ele disse e não tanto pelo tom – cada um tem o tom que tem -, escrevemos que o convidado da Madeira em vez de ajudar, tinha vindo dar uma machadada no objetivo da regionalização, descredibilizando-a. Na verdade, sempre que Alberto João Jardim abre a boca julgando dar uma aula sobre regionalização, o que ele faz é falar de provincianismo, sobretudo daquele provincianismo que se colou à revolta da Maria da Fonte contra os enterramentos fora as igrejas. Mas a Madeira fosse um caso de sucesso de qualquer Maria da Fonte em traje moderno, seria de ouvir Jardim e calar. E não duvido que, se o convidaram a pregar no Algarve, era porque Jardim tinha precisamente a fama intocável de “fundador da Madeira”, pelo que, não havendo ainda “fundadores do Algarve”, o sermão do Funchal poderia estimular a procriação dos ditos. Só que aquilo que acaba de ser descoberto e deixa o país atónito (ocultação de dívidas perto de 1891 milhões de euros com desvio de verbas para isto e para aquilo) transformou o fundador da Madeira no “afundador da Madeira”, Madeira essa que tem menos de metade da população do Algarve e um território que equivale a Albufeira tão esticada como gostaria de se esticar se a deixassem, mas que, através da chantagem da independência, afinal brinca com o orçamento do Estado sugando-o, abusa dos contribuintes portugueses e dá suporte há três décadas à versão portuguesa mais acabada ou amacacada de um ilustre democrata do sertão africano. Por favor, não o convidem mais a pregar no Algarve, que, com os sermões que aqui veio fazer, já estragou muito e já levou a que alguns, mirando-se ao espelho, tenham discursado para si próprios: “Sou o Jardim do Algarve, não sou?”

Carlos Albino
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Flagrante reconhecimento: Discordou-se mas agora damos tardiamente razão a José Apolinário – “Faro é Faro”.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SMS 428. Publicidade e informação

15 setembro 2011

Há por aí grande confusão em determinada cabecinha, entre publicidade e informação. Para essa pessoa tanto faz uma coisa como outra e, pelos vistos, o que o Algarve necessitará é de publicidade, muita e mais publicidade, e a informação, também pelo que já está visto, é mero adorno desse fogo de vista. E então, vá de rios de dinheiro para essa publicidade, para esse fogacho que, como outros fogachos, vai durar um anito, quando muito um anito e meio.  E o comércio algarvio, que está nas lonas, vai nisto.

É claro que a preciosa liberdade de expressão não existe no vácuo – precisa de uma base material que lhe dê sustentação. E essa base, para os jornais e rádios, é uma sólida e variada carteira de anunciantes, cujo suporte financeiro permita a prática de um jornalismo crítico e independente. Os anunciantes e os leitores que pagam as suas assinaturas ou compram em banca o seu jornal preferido, deveriam ser as únicas fontes de receita dos jornais que não sejam meros expedientes ou refinadas aventuras. Cada expediente ou cada aventura que surja fora disto lançará uma justa e real sombra de desconfiança sobre toda a atividade jornalística na região, sobretudo se a obsessão publicitária revelar completa ausência de ética ou dispensar a ética.

Mas, segundo parece, está-se a brincar com coisas sérias. E, mais grave, a brincar num tempo de crise para todos, à exceção, naturalmente, dos brincalhões de paraísos fiscais a quem muitas vezes convirá brincar com o dinheiro como as crianças que jogam às manecas.

Carlos Albino
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Flagrante esclarecimento: Naturalmente que os ditos “jornais de encarte” não são jornais, são boletins e não mais. Um jornal que seja jornal não precisa de ser encartado noutro jornal.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SMS 427. A crise dos jornais de cá


8 setembro 2011

Tinha que dar nisto. Os governos com políticas circunstanciais e imediatistas para a imprensa pobre da província que disseram querer apoiar, os municípios a constituírem-se em editores de publicações próprias compensando isso com subsídios informais, a publicidade dos serviços públicos distribuída por critérios difusos e de simpatia, grande parte da publicidade privada por livre arbítrio colada às paredes, as empresas jornalísticas (algumas, pagando as justas pelas pecadoras) brincando umas iludindo-se outras com os apoios ao longo de anos, e os leitores a habituarem-se comodamente à ideia de que os jornais são gratuitos e lhes chegam às mãos por barrigas de aluguer, tinha que dar nisto: semanários que passam a quinzenários, encerramentos. È da crise, mas não é só da crise que o problema vem de longe e é de raiz.

As maiores empresas que operam na região, operam como se não precisassem dos jornais, e pelo que fazem parece que não precisam. As pequenas, desde as funerárias às do espetáculos, também não precisam dos jornais – têm as paredes, bastando umas fotocópias desde as de grande formato às pequenas pagas pela família do morto, um balde de cola e um rapaz a horas. Os municípios fazem as suas agendas em papel couché, os seus boletins, montanhas de folhetos – também não precisam dos jornais para a divulgação institucional das suas atividades e da “mensagem do presidente” que é sempre a mesma. E a culminar, algumas aventuras que começaram luxuosas e acabam em remendadas, encarregaram-se de destruir o sistema de assinaturas próprio do jornal de proximidade. E sendo assim, os jornais não podem viver do ar – sem publicidade, sem assinantes, sem compra direta, têm que fechar.

É certo que o Algarve, contrariamente a outras regiões do País, conseguiu atravessar todo o século XX sem um diário, sem um grande jornal de referência e símbolo da força anímica da província, se a teve ou tem. Teve dois ou três semanários, que continua a ter, mas que, para isso tiveram que fazer das tripas coração. É também certo que os algarvios, na generalidade, não se dedicaram à leituras dos seus jornais como os de outras regiões se dedicam aos seus. Lê-se pouco na região, melhor dito, quase nada se lê., chega-se a casa com o da bola debaixo do braço e a televisão é a maravilha, ou à passagem pelo café basta uma olhadela pela página dos crimes. E sem interesse crítico dos leitores, não foram poucos os jornais que se traíram a si mesmos com “crónicas” de ilustres figuras que ninguém consegue ler ou com intermináveis prosas laudatórias a quem, direta ou indiretamente os foram subsidiando enquanto podiam ou podem, entretecendo-se isso com o noticiário “regional” de agência falando do que toda a gente já sabe, igual em todos os lados.

E temos a pescadinha de rabo na boca: não se lê porque pouco de útil e de bom interesse público há para ler, e não se pode publicar o muito que há de interesse público e útil porque aqueles de quem se depende põem condições, às claras ou às escondidas que às escondidas é o que mais há e impera.

Carlos Albino
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Flagrante apelo: Se querem homenagear José Barão, paguem a assinatura do “Times do Algarve” que os assinantes são a base dos jornais independentes e livres, embora tenham que ser feitos à proporção.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

SMS 426. Cunhas de affecto e de protecçaõ

1 setembro 2011

A protecçaõ que a politica offerecce , naõ he hum simples acto da illustre piedade se em cada hum houver tanto talento para o entender e vem dos nossos Maiores em successiva tradiçaõ pois já elles julgavaõ por periddo aquelle dia, em que naõ protegiaõ a alguém. Assim a amizade de hum deputado pela sua regiaõ que é reyno, poder-se-há ella dar a conhecer, mas naõ se costuma conservar se ninguém beneficciar do seu affecto e naõ usufruir da cunha de protecçaõ. Do fortíssimo empenho, com que um deputado quis que alguns fossem providos no Emprego pode resultar que naõ haõ de ser certamente dignos os seus humildes merecimentos, mas o desvanecimento he maior que a sua utilidade. Disto está o Allgarve cheio e porque tantos em taõ longos annos muitos obraram. Pergunta o reyno do Allgarve a cada deputado porque naõ tem maõ para escrever e preguntar no suave exercício dos seus preceitos, sabendo a razaõ – naõ tem coraçaõ para o amar. Onde ha affecto que naõ seja pella cunha ou pella affectuosa protecaõ, sempre ha tempo para preguntar. He taõ obstinado o silencio dos deputados que ao reúno a que futuro haõ de chamar regiaõ sem ser, já naõ parece silencio, perece crueldade. As cousas mortas, ainda que muitas vezes sejaõ chamadas, naõ respondem; ainda que sejam provocadas, naõ resentem. Tal he a amizade dos deputados pelo reyno, que nem respondem ás frequentes queixas, a naõ ser que venham elleicções que só servem para os acordar de taõ escadloso lethargo, voltando a pedir elles que resuscite a sua morta amizade pello reyno que até se riu daquella cenna sem grandeza do governador civil substituto. E a vinda daquelle outro á nossa quinta, que tantas vezes foi promettida, he como matéria prima, que sempre está em potencia, nunca se reduz a acto, sempre as suas promessas saõ promessas, e sempre as esperanças do reyno ficam esperanças. Todos os passos que daõ, saõ como os dos Planetas retrogados, que saõ inuteis. Mas breve he o dia para subir , e descer escadas de Ministros, e Escrivães; sendo que em huns naõ deixa de haver letras cobertas pello reybo, nem em outros presteza; mas as letras de huns, pelo que papaõ, saõ só de Papiano; e a presteza de outros, pelo que roubaõ, he comoa velocidade de Atalanta com sentido nos fructos de ouro. Mas como os deputados pouco sabem de mitologia, que Deos os guarde muitos annos.

Carlos Albino
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Flagrante ortografia: O autor não escreve segundo qualquer  acordo ortográfico mas em portuguez de 1815, quando havia reyno.