quinta-feira, 25 de novembro de 2010

SMS 388. Uma enorme desconfiança


25 novembro 2010

A comunicação social está cheia de assaltos, crimes violentos e relatos da ladroagem à solta mas o que se escreve, filma e descreve está longe de transmitir a imagem real do que as pessoas sentem e temem. Na verdade, por cada casa que ainda não foi assaltada, há cinco ou seis à volta que foram – há zonas do Algarve onde isso já entrou na rotina e onde novidade será não ter havido assalto a vivenda ontem ou anteontem, seja casa de rico, de pessoa modesta ou manifestamente pobre. Não há escolha, em certas ondas de assaltos que pela frequência, métodos e seleção de alvos, tudo leva a crer que partam de bandos organizados, sem que polícias e tribunais dêem sinais de capacidade e eficácia de combate.

E, sobretudo nas zonas rurais que são também as mais indefesas, há um crescendo de pessoas que cada vez mais estão convencidas de que as forças da ordem são inoperacionais e que haverá uma razão para que assim se pense. É verdade que os agentes até podem estar no terreno e acorrem com rapidez à chamada, mas o resultado é zero – passada uma semana ou mesmo um ou dois dias, lá vem outro assalto mais à frente ou mais ao lado.

A desconfiança aumenta sobretudo quando a lei parece estar a proteger mais os criminosos do que as vítimas e quando a máquina da justiça parece estar vocacionada para descobrir as escapatórias que ilibam aqueles a quem uma sociedade normal exige que sejam alvo de castigo e sujeitos de recuperação ou reinserção. E maior é a desconfiança quando os processos ilibatórios até beneficiam agentes da autoridade apanhados em falso, como por estes dias foi noticiado a propósito de um caso de droga. A desconfiança é enorme, não vale a pena pintar a manta e, segundo parece, há falta de voz de comando, falta essa que a sobranceria não compensa nem resolve.

Carlos Albino

    Flagrante escaravelho: Continuem a deitar abaixo as alfarrobeiras plantando palmeiras e outras asneiras que os escaravelhos agradecem...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

SMS 387. Sim, deputados. Ponto final.


18 novembro 2010

Todos assistimos com estupefacção ao caso do despedimento dos 336 trabalhadores da Groundforce no aeroporto de Faro, alegadamente responsáveis por metade do défice de exploração da empresa que vai na ordem dos 20 milhões de euros. De um dia para o outro, muita gente no Algarve passou a conviver com a inquietação do que pode acontecer também de um dia para o outro, inquietação essa que, numa economia regional frágil e sem variedade nas dependências, facilmente pode resvalar para o pânico, sabida como é a situação nas pequenas empresas de comércio e serviços.

Era de esperar que os deputados que se instalaram em S. Bento com os votos dos algarvios e para os representar, acorressem ao local desse sinal de desastre social e se movimentassem, se informassem, questionassem, explicassem, enfim, representassem. E o que aconteceu? Posso estar enganado mas parece-me a mim e a muito mais gente que a apenas Mendes Bota e Cecília Honório se dirigiram ao local das preocupações, com o número dois da lista de eleitos pelo PSD a dirigir um requerimento ao ministro das Obras Públicas, além de posição pública. Não se exigindo a João Soares ou a Bacelar Gouveia tal incómodo, se Miguel Freitas fez alguma coisa não se notou nada e não é para ações discretas que um deputado é eleito – para isso é-se ministro, pelo menos, ou então deputado do CDS.

Dirão alguns que possivelmente, caso estivesse o PSD no governo, os passos dados por Mendes Bota seriam protagonizados por Miguel Freitas, mas o tempo que passa não se compadece com este tipo de jogos florais ou de conjeturas perversas. Não é por se pertencer à cor do governo que não se vai ao local das preocupações nem por se estar na oposição que tal local é politicamente atraente. Um deputado é para representar quem o elege e os que o elegem sabem desde há muito e não é por calculismo político que é nas horas más que se conhecem os amigos e que os amigos se provam.

Custa-me constatar e ter de dizer que os deputados eleitos pelo Algarve, na hora que passa, não têm feito o que deles se esperaria, sobretudo os do PS.

Carlos Albino
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    Flagrante originalidade: Essa, a da oferta de 60 gravatas de cortiça à cimeira da NATO pela Pelcor de São Brás, já que, quanto a cortiça, muitos dos chefes de estado e de governo só a conhecem das rolhas que usam nos ouvidos...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

SMS 386. Deputados. Quantos e quais


11 novembro 2010

Volta e meia, aí vem a polémica do número de deputados e do formato das listas. Até agora todos temos votado confiadamente em função do sagrado princípio da proporcionalidade entre listas partidárias enquanto os diretórios partidários, grandes e pequenos, têm afastado a hipótese de experiência dos círculos uninominais que a maior parte dos eleitores nem sabe o que são.

E por efeito desta rotina, os resultados estão à vista – os candidatos a deputados são aqueles que os diretórios centrais dos partidos querem por conveniência do momento, porquanto cada vez com mais custo aceitam as propostas das bases partidárias, estas, por sua vez também, cada vez mais acríticas e gradualmente com menor expressão qualitativa. E é assim que um círculo como o de Faro tanto faz que tenha seis, sete, nove ou vinte deputados, pois na verdade não se dá por eles a não ser por alguma passeata ou jantarada e muito menos se dá por aqueles cabeças de lista impostos pelos diretórios e que além de não serem da região nem a conhecerem, também não se interessam por ela nem têm que se interessar já que a função de deputado se converteu em emprego político de carreira, o que, julgam muitos, seria impensável numa eleição uninominal.

Na verdade, ao deputado eleito por lista partidária basta-lhe saber “gerir bem o posto”, bastando para isso uns comunicadozitos a tempo que não incomodem muito Lisboa mas que também acalmem os do burgo, uns retiros calculados e intervalados com umas cronicazitas, uns telefonemas aos chefes locais e o controlo das bases que também nada custa controlar quando se tem poder e se pode marchar majestaticamente com essa efémera unção eleitoral.

Todavia, parece que o prazo de validade deste esquema – esquema que deveras mina e corrói a democracia – está a terminar, desconhecendo-se que esquema que lhe possa suceder ou se cada vez a mais eleitores lhes interessará sequer debater que esquema suceda. Tal esquema de representatividade adulterada se é que não é mesmo traída, não pode durar muito e caso sobreviva demasiado tempo isso será sinal de que a democracia está ligada à máquina, o que não augura nada de bom. E neste âmbito, o Algarve tem aguentado de tudo mas não é difícil constatar que está deveras estragado, não digo que não tenha remendo. Sendo assim, que enorme saudade de Almeida Carrapato.

Carlos Albino
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Flagrante verdade: Faro é Faro.