sexta-feira, 24 de outubro de 2003

SMS 24: Lassidão - é a palavra

23 Outubro 2003

Seria de esperar que o acordo de pescas – e mais do que o acordo de pescas, a clamorosa falta de fiscalização das nossas águas – provocasse o debate sereno mas forte, o enunciado de interesses e uma posição inequívoca dos Algarvios para quem o Mar é tudo no presente e se calhar no futuro. De facto, houve alguma reclamação dos homens da Vila de Santa Luzia (Tavira), porque José Apolinário, nestas coisas das pescas, é um bom rebocador. E pouco mais houve, como em tudo: é assim na agricultura, é assim no turismo, é assim nos serviços. Dir-se-á que é apatia, ou seja – indiferença, marasmo, insensibilidade. Não me parece. A palavra é a lassidão. O Algarve está mergulhado numa profunda lassidão, ou seja – tédio, frouxidão, cansaço. Assim não vamos a lado nenhum, embora Portimão lute por ser capital disto, Tavira daquilo, Lagos doutra coisa que nem se sabe o que é, Loulé do que lhe vai restando de Faro e Olhão, Albufeira do que lhe vai iludindo… Capitais em demasia para tamanha lassidão.

Carlos Albino

quinta-feira, 16 de outubro de 2003

SMS 23: CCDR, catitamente... um casamento do monte

16 Outubro 2003

A entrevista que o advogado e presidente do CDS/Algarve, José Plácido dos Santos deu a Pedro do Carmo (Algarve Região) é a todos os títulos notável. Sabe-se que, por mero preço de uma coligação que nada tem a ver com a realidade política e até com a entidade do Algarve, foi «distribuída» a José Plácido dos Santos uma das vice-presidências da CCDR, tal como nos casamentos do monte, e, com toda a desfacatez, o homem não vê incompatibilidade nenhuma seja com o que for. Confrontado com os exemplos de Carlos Martins que abandonou a liderança do PSD/Algarve quando assumiu o cargo de Secretário de Estado da Saúde ou de Miguel Freitas que abandonou a CCR quando se candidatou à liderança do PS/Algarve, José Plácido dá uma resposta catita: «O problema não está nos cargos, está na isenção com que são desempenhados». Isenção, vejam. E confrontado com a sua ligado à interesses imobiliários, José Plácido, também catitamente, exara: «É difícil arranjar um advogado no Algarve que não tenha clientes que não tenham interesses imobiliários». Isenção, claramente, sendo a CCDR o que é para o que é. Por isso e por aí, também não haverá incompatibilidade, segundo o evangelho de Plácido. Na verdade, este José Plácido é uma típica figura de uma CCDR que (re)nasce mal: partidarizada e de costas voltadas para a ética política. Voltaremos ao assunto.

Carlos Albino

quinta-feira, 9 de outubro de 2003

SMS 22 - Até estranhei a ausência do padre de São Brás

9 Outubro 2003

«Aqui repousam os restos mortais de um homem que, durante a sua vida, fez o possível para ser honesto e que, se, por diversas vezes, ele faltou aos seus deveres, foi motivado pelas injustiças dos homens» - foi a frase que João Rosa Beatriz, fundador do Concelho de São Brás de Alportel, pediu que lhe colocassem na campa. João Rosa Beatriz foi «anti-clerical» porque no seu tempo ser anti-clerical era o mesmo que, hoje, ser anti-fundamentalista, sendo o fundamentalismo uma doença que não ataca apenas muçulmanos, cujos contaminados por esse mesmo mal, continuam a entregar todo o poder aos clérigos. Não vamos fazer história porque, para além do País estar cheio de historiadores (90 por cento dos portugueses são historiadores), o que Maria João Raminhos Duarte disse com grande inteligência, em São Brás, a propósito de um Algarvio generoso que imolou toda a vida e sem tréguas pelo ideal do combate à injustiça, acabou por ser uma verdadeira «oração ecuménica». Por isso, estranhei que o padre de São Brás estivesse ausente. É verdade que a Igreja por aí tem andado a pedir desculpa pelos seus fundamentalismos do passado (um extenso comboio, sobretudo quando a Inquisição era um verdadeiro regime de talibãs…) mas ficar-lhe-ia bem que reconhecesse, ainda que discretamente, que alguns anti-fundamentalismos também do passado contra ela, tiveram justificação e legitimidade. Pelo que se lhe conhece, Cristo, se fosse vivo, estaria presente na evocação de João Rosa Beatriz. E se calhar esteve, estando o padre ausente. Não há desculpa, a não ser que o padre também seja historiador.

Carlos Albino

quinta-feira, 2 de outubro de 2003

SMS 21 - Adriano Pimpão. Apoiado!

2 Outubro 2003

A Universidade do Algarve está a avançar com firmeza por aqueles dois carris paralelos em que o Saber surge como o motor potente da sociedade, mesmo nas curvas mais apertadas impostas pelo traçado da ignorância natural. A internacionalização e a abertura à sociedade, estão a ser à evidência os dois grandes suportes desse magnífico rodado que se converteu já na instituição mais respeitada do e no Algarve e, por certo, num dos fortes motivos de esperança no futuro. É certo que a internacionalização só pela internacionalização é coisa oca, e que a abertura apenas pela abertura acaba por ser show off. Mas quando a internacionalização e a abertura fazem deslizar o chassis da investigação e do desenvolvimento, então temos comboio para andar. É o que está a acontecer com a Universidade do Algarve cujo êxito de afirmação da dignidade ao projecto se chama Adriano Pimpão a quem irrecusavelmente digo: Apoiado! Lamentavelmente os operadores económicos de maior peso no Algarve mas cuja sede financeira está fora da «região» nem um único protocolo celebraram com a Universidade do Algarve, precisamente porque actuam no Algarve tal como os corsários, ainda há menos de cem anos, faziam incursões em Lagos e tal como a pirataria moura devassava as póvoas do litoral. Também lamentavelmente ainda hoje há responsáveis da própria Universidade para os quais o Algarve termina no aeroporto ou começa nas bermas da A2, pelo que em todo o caso conhecem o Patacão e pouco mais. São os primos dos piratas. Mas Adriano Pimpão não deixou cair os braços e, em segundo mandato, está a converter a Universidade na moderna fortaleza de que o Algarve tanto carece. Em função dos longos diálogos que mantive com Gomes Guerreiro no tempo em que a Universidade patinava pela tibieza do poder central e pela indecorosa falta de coragem e sentido de liderança dos políticos «regionais», pois se o primeiro Reitor fosse hoje vivo, também diria, pela certa: Apoiado! E como eu gosto de repetir esta palavra – Apoiado! – no Jornal do Algarve onde a proposta da Universidade foi apresentada e defendida pela primeira vez, nos remotos anos 70, contra os minimalistas que se contentavam com um institutozinho politecnicozito (que nem isso ganharam) e que, pertencendo quer à então situação ou quer à então oposição, fizeram o Algarve perder vinte anos. Foi muito tempo perdido mas olhemos para a avenida larga do futuro. Apoiado!

Carlos Albino