quinta-feira, 28 de agosto de 2008

SMS 277. Ora, quando a segurança está insegura…

28 Agosto 2008

Não estive à espera do último crime para tocar no tema que a todos preocupa – o da segurança. Já aqui se tem repetido que a segurança não consiste em colocar um polícia ou guarda atrás de cada criminoso – a segurança existe quando cada cidadão, confiado no estado, não sente a necessidade premente de organizar e prevenir a sua própria defesa, sendo que, quando são muitos os cidadãos a sentirem essa necessidade, isso é um sinal de que o estado não cumpre uma das suas principais missões pois para isso se arma e tem justiça penal, o que os cidadãos, por princípio, não podem nem devem fazer. Um cidadão arma-se, quando muito, para ir à caça das perdizes e mesmo assim é preciso que ache piada em ser caçador ou disto tire algum proveito. Já o criminoso, por definição e estratégia, está armado e anda à caça dos cidadãos como quem desportivamente vai às perdizes. Fiados na mão leve dos tribunais e dos juízes de arribação, ou, se as coisas correrem pior nas esquadras, expectantes num comunicado protector dos direitos humanos, os criminosos sabem que a actuação lhes fica facilitada quando é a própria segurança que está insegura. E está.

Há cidades algarvias já de apreciável dimensão e movimento em que, por dias e noites, e por noites e dias, não se vislumbra uma patrulha, um guarda de giro, uma presença da autoridade ou a forte probabilidade dessa presença. E pelos campos e aglomerados isolados da serra, nem se fale. É como se a segurança se resumisse àquele telefone da esquadra com um estagiário à espera de que alguém comunique uma ocorrência, como nos bombeiros. A segurança tem um domicílio, está domiciliada, entre horários de expediente e piquetes de atendimento. A segurança recuou até esse ponto e quando avança ou se torna pública, notória e não raramente sobranceira, é porque há procissão, festival ou corrida de ciclismo, que obviamente é quando os criminosos não aparecem pois só correm quando andam a monte.

Resumindo e concluindo, não há um plano de prevenção contra o crime que seja conhecido desde a humilde taberna da serra ao litoral da autarquia que olha por cima do ombro para a autarquia do litoral contíguo. Porque não se culpe só a guarda ou a polícia domiciliada – as autarquias são também responsáveis desta segurança que está insegura.

Carlos Albino

      Flagrante bandeira preta: De ano para ano, a apertar o cerco à praia da Falésia, aquele caos de betão que Albufeira aprova. Uma vergonha. Vergonha a merecer bandeira preta.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

SMS 276. E falemos da alfarroba!

21 Agosto 2008

Continua o mesmo de há uns anos a esta parte: enquanto o Algarve está entretido com festivais dia-sim dia-não, nos campos e serras trabalha-se para não se ser roubado e rouba quem quer estando em causa essa coisa de valor económico apreciável que ainda tem o nome de alfarroba, valor económico que os armazenistas e industriais de trituração sabem muito bem qual é ele.

À falta de gente para a apanha, começou-se por dar metade da produção a quem fosse varejar as árvores. Agora nem isso. Verdadeiras hordas de gente marginal para quem nem a lei nem os direitos dos outros existe, devassam terras e terras pela calada da madrugada, enchem sacos e sacos, e possivelmente os armazenistas e industriais de trituração agradecem. Ainda há pouco tempo, esta ladroagem organizada ia de carro de besta a partir de acampamentos que montados e desmontados conforme as conveniências da natureza, agora vai de furgão fechado de duvidosa inspecção periódica a avaliar pelos pneus carecas, fumarada e matrículas mal amanhadas. Mas lá vai, deixando mulheres e crianças para a limpeza, recolhendo no retorno sacas e sacas, sendo certo que nem uma alfarroba fica nas árvores nem nos caminhos, enquanto dos armazéns de trituração, que por milagre se enchem até ao tecto, partem enormes camiões TIR que sobretudo as indústrias alimentares da Suíça bem agradecem e pagam melhor.

Ora é tempo dos municípios onde a produção de alfarroba conta, tomarem alguma iniciativa com conta e medida, mas sobretudo com imaginação. É tempo de esses municípios criarem departamentos de apoio ao agricultor, em parceria com os armazenistas e industriais de alfarroba e com os centros de emprego, abrindo portas ao trabalho voluntário remunerado, através de programas com princípio, meio e fim. No fim do varejo, tais programas dariam certamente lucro para todos e acabar-se-ia com este reino de ladroagem nos campos. É uma ideia, digam se não terei razão em chamar a atenção desses municípios.

Carlos Albino

      Flagrante chapeau: Para a excelente coluna de José Carlos Barros. É certo que o elogio fica em casa, mas tal como a coluna, chapeau! - de alto a baixo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

SMS 275. Açores, Madeira e Algarve

14 Agosto 2008

Paradoxalmente há dois movimentos opostos em matéria de regionalização: um, para a Madeira e para os Açores, onde vale o princípio de quanto mais regionalização melhor, sejam quais forem os expedientes dos beneficiados e as intenções nem sempre clarificadas dos decisores; outro, onde prevalece o mandamento segundo o qual quanto menos regionalização melhor ainda, ora com desculpa na crise e no défice, ora com receio de se perder a fartura e abastança das horas em que isto relativamente houve.

A eliminação da hipótese constitucional da criação de regiões-piloto que todo o país entendeu, desde a primeira à última hora, visar fundamentalmente o Algarve (remotamente Trás-os-Montes) tem claramente a ver com esse paradoxo da política portuguesa. Paradoxo esse que tem invariavelmente levado a que cada um dos dois dois partidos que chega ao poder coloca a meia-haste a bandeira da regionalização, aquela mesma bandeira que também invariavelmente iça ao mais alto do mastro enquanto hiberna na oposição.

É claro que o problema não é o do Algarve não ter um Alberto João Jardim ou um Carlos César; o problema é que o Estado ou a rede que nele decide e delibera politicamente em última instância tem Albertos e Césares a mais, tudo fazendo para não incomodar ou mesmo sequer ferir a sensibilidade dos protótipos da Madeira e dos Açores. E ai de quem incomode e fira!

Ora, era de fazer bem as contas do que a Madeira e os Açores dão, cada um, para o orçamento do Estado e do que dele retiram. E já agora, também umas contas-piloto do que, por exemplo, o Algarve dá para o mesmo orçamento e dele beneficia. Talvez assim se compreendesse melhor o paradoxo do Região Autónoma do Continente, com seus Albertos e seus Césares.

Carlos Albino

      Flagrante discriminação: A dos cultos e religiões, por exemplo, nos boletins municipais, alguns deles verdadeiros boletins confessionais para não dizer pior.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

SMS 274. Para que a novela termine

7 Agosto 2008

Há nesta novela da Maddie, uma evidência de poderosa realidade – Maddie é a culpada, afinal culpada de tudo. É a verdade. Ela é a culpada da existência da Judiciária, julga-se que até a criação da inexperiente PJ portuguesa foi uma das suas brincadeiras, porque antes já tinha inventado a experimentadíssima polícia de investigação inglesa para a qual está ainda para surgir um caso que não tenha sido resolvido; ela foi a culpada de ter convencido o Papa, pelos canais diplomáticos, a receber o casal McCann; ela foi a culpada por aquela jantarada; ela, sim, só ela através de heterónimos implantados com sagesse nos diários, rádios e televisões, foi a única culpada de todo este espalhafato; ela foi a culpada por essa dúvida de rapto ou morte, conforme a conveniência; outro culpado não se encontra para o avanço de tantos detectives privados, uns espanhóis, outros britânicos, possivelmente outros ainda apátridas e alguns até videntes; culpada foi da organização do fundo, da gestão do fundo e do marketing do fundo; culpada foi do resort, da Praia da Luz, da Igreja, dos cães, dos vestígios, dos porta-vozes e sobretudo culpada dos desenhos dos retratos robots de um moreno e sobretudo caucasiano. E, portanto, de tudo o que se coligiu, é que a culpa de Maddie no seu próprio caso não teve, e por sua única culpa não podia ter tido esta interrogativa racional: - «Qual é a pista mais provável?». Teve esta estranha interrogativa: «Quem é alguém que está algures e não diz nenhures?». Naturalmente esse alguém que está algures e não diz nenhures só pode ser Maddie, a única culpada.

Agora só falta um milagre, o milagre da aparição de Maddie na Praia da Luz. Mas duvida-se que Deus, sabedor do que todos os protagonistas sem culpa sabem, autorize. Mas que tal milagre daria jeito para que a novela termine, ah! lá isso dava.

Carlos Albino

      Flagrante expectativa: Por um estudo sobre os benefícios e malefícios da marca Allgarve porque há experiências que matam.